Caros leitores,
Este ano não falhou e no dia de São José, choveu. Mais que uma crendice é um aprendizado observado nos ambientes civilizados, onde, o último prazo para o plantio do milho tem de ser obedecido; é o milho verde comido nas festas Juninas.
É o Santo mais complexo de ser entendido, tão complexo que, a meu ver, foi profundamente desvirtuado; o fato das pessoas não conseguirem enxergar a grandeza de São José ser o Pai de Jesus resultou num afrouxamento da doutrina chegando ao cúmulo da criação do dia de São José Operário; que coisa! Um pobre coitado operário; pode! Não, não pode. Lembrei, até nas músicas São José é tratado como do povão e sempre acompanhado de sua condição de carpinteiro –sendo a palavra carpinteiro entendida da forma atual, contextualizada no hoje. Ter uma caixa com as ferramentas próprias para a carpintaria, hoje, é fácil; até banal. Imaginem ter todas essas ferramentas há 2019 anos! Nesse tempo um carpinteiro era um industrial.
São tantas as coisas para falar sobre São José, mas, procurarei limitar-me somente a figura paterna. É um quase nada que ficou descrito sobre a infância de Jesus e um traço importantíssimo foi narrado por São Lucas: que todos os anos, pela Páscoa, os pais de Jesus iam em peregrinação a Jerusalém. São José piedosamente parava sua fábrica para cumprir a sua missão religiosa; um atestado da educação religiosa dada a seu filho. Outro traço da educação dada por São José e Santa Maria ao seu filho dá-se no regresso da peregrinação, é um delicado e belíssimo traço de como a Sagrada família entendia bem a liberdade e a obediência. Seu filho de 12 anos era livre para decidir se caminhava com os amigos, ou na companhia dos pais; sendo que a noite o encontro com os pais era certo (aconteceu de uma vez Jesus não aparecer levando os pais a uma profunda angústia, ficou no templo; mas isso é outra história). Agora sinta a profundidade narrativa da vida normal de Jesus, também narrado por São Lucas: “Desceu, então, com eles para Nazaré e era-lhes submisso”. “E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens”. Sim é verdade, São José mandava e seu filho obedecia e tudo foi normal como deve ser entre pai e filho. Tudo deu, tudo proveu, nada faltou. Viveram, sorriram, aprenderam, comeram, dormiram e trabalharam, sentiram cheiros, gostos, sons e viram, e sonharam e era uma família com uma história real, num lugar e num tempo; desde o nascimento e nas várias fases da vida humana, tudo foi concreto, real; junto a sua família Jesus pensou e aprendeu de maneira humana, como homem, e enquanto homem não vive numa onisciência abstrata.
Deus viveu concretamente sua forma humana e foi Ele que escolheu São José para ser seu pai (nossa! Abre-se uma avenida filosófica), entretanto para ser pai de Jesus, além de estar preparado para dar as coisas materiais e proporcionar as experiências temporais, era preciso desgarrar-se da materialidade da carne e transcender rumo à divina felicidade, a felicidade do amor pleno. É difícil conceber atualmente, esse conceito, coisa que leva muitos ao erro fácil e a enganações de toda espécie, até!! Absurdos dos absurdos que Jesus teve irmãos! Não, não teve; Santa Maria manteve-se virgem e incorruptível. São José teve a sorte de casar com Santa Maria e viver o amor pleno somente reservado aos que tem a iluminação divina, e isso, hoje, principalmente pelo conhecimento religioso ralo, é difícil de conceber; sim, é fato São José casou e manteve-se virgem. O casamento da sagrada família transcendia a materialidade e os prazeres da carne. O verdadeiro pacto do casamento cristão, que é a junção de duas vidas numa só para que dessa única vida se concretize no filho uma vida melhor, atingiu a plenitude; o amor existente no casal divino extrapolou todos os limites; cada carinho, cada mamada, cada colherada de comida dada ao menino Jesus, cada ensinamento era tão cheio de amor, que, enfim, esse amor transbordou. Viveram só no amor e para o amor, e mesmo quando sentiram a angústia de ter por três dias o filho perdido, isso, verdadeiramente, era o prenúncio do que aconteceria; uma preparação. Este fato serviu de alerta e o casal real redobrou a preparação de seu amado filho, São José O preparou nas artes dos ofícios e nas responsabilidades temporais. Jesus já adolescente descobriu que seu verdadeiro pai é Deus, ninguém Lhe contou, nenhuma pessoa humana Lhe disse isso, Ele reconhece-O em si e vive sua presença. Em nada essa descoberta diminui o amor de Jesus por São José; também em nada diminui o amor de São José por seu filho Jesus.
Que vida! A vida de São José! Ter em seu colo, criar e mandar num Deus… que vida! Tão pura, tão exitosa, de exemplo tão belo e complexo, tão difícil de tentar imitar, a ponto de os mais fracos simplesmente abandonar a tentação de imitar e cair na tentação de desvirtuar sua vida, esconder a verdade. O exemplo de São José nos conduz a profunda reflexão de que não nascemos divinamente filhos de Deus só pelo fato de pertencermos à espécie humana; nascemos todos, aptos, a sermos divinamente filhos de Deus, desde que nossos pais nos conduzam nesse caminho; lembre-se: duas vidas, resumida a uma vida, para com dupla força fazer brotar uma vida melhor.
Para mim, São José é o padroeiro dos pais.
Fim.