Caros leitores,
Não vi; espiei, reparei direitinho, andei procurando a miúdo, nada achei! Nem um boné, ou uma camisa, talvez um singelo “botton”, nada! Foi uma grande surpresa atestar que meu diagnóstico da causa mortis da CEPLAC está corretíssimo, morreu de VERGONHA. Pela primeira vez fui a um evento/festa umbilicalmente ligado a cacauicultura, aos fazendeiros, e a CEPLAC não estava presente… sumiu; virou bufa do cão; escafedeu-se; abduziu; acabrunhou-se na vergonha; morreu de suicídio.
Festa boa; bonita. Santa Luzia fez a primeira Festa do Produtor Rural (prefiro fazendeiro, mas, fazer o quê?) na praça da feira, bem em frente ao prédio da finada CEPLAC; e lá vem história! Ouvi em primeira pessoa contada por José Gonçalves: no finalzinho dos anos 1970, ele, meu pai (Carlos Terra), meu tio (Fernando Terra), Badú, Gentil Batista doaram o terreno para a construção do prédio sede e do depósito de insumos, sem nada em troca; doaram por acreditar no progresso. Confirmei o fato ao tirar a certidão de inteiro teor do imóvel (tenho essa certidão), lá está escrito o nome dos doadores e o modo; não consegui identificar se foi o tabelião que quis deixar os nomes registrados, ou se foi a pedido de algum doador. Fechado, escuro, sujo, sem muro, restou o prédio testemunhando o impensável fim, frente a frente; no fim a vergonha matou o algoz do cacauicultor; já o cacauicultor festejou seu brio, com brios! Levantou, sacodiu a poeira, está dando a volta por cima.
Copão de uísque na mão, passeei, vi, revi os amigos, conheci novos fazendeiros chegantes, visitei os estandes, soube das novas boas notícias; apreciei as novas conversas, convivi com uma nova realidade, tudo quis mudar; e mudou! Mudou tanto que o assunto cacau ficou um tanto deslocado; claro que tem importância, mas está deslocado. A cafeicultura dominou o assunto, conversei com o bisneto de um cacauicultor que conheci, está muito bem com a cafeicultura, mais da metade da fazenda do bisavô hoje é café; está feliz.
É possível sentir também no comércio a mudança, canos de irrigação já são possíveis encontrar; a pick-up da assistência técnica para tratores ficou comum, o que indica uma boa quantidade de tratores; parafusos de grandes bitolas usados em implementos ficaram fáceis de comprar; drones para todos os fins e usos; era impossível as tecnologias não chegarem, até por osmose chegariam; chegaram. Neste contexto todo, com o fazendeiro desesperadamente precisando de mão-de-obra treinada, o SENAR fica brincando de ensinar a botar bica em nascente, assim: faz uma barragemzinha na mão, de supapo, bota um pedacinho de cano, posta no Instagram e pronto. Aliás, o SENAR é um caso que precisa de mudanças urgentes, o bolo do dinheiro precisa ser repartido com outras instituições, como a AIBA, UNAGRO, etc… é urgente repensar o SENAR.
E agora faço a pergunta: com a CEPLAC fora do contexto qual o futuro da cacauicultura? Alguém arrisca uma previsão. Bem, previsão eu não faço, mas olhando o dia a dia posso traçar algumas linhas. A primeira é a vã ilusão da promessa charlatã; a natureza odeia o vácuo já o charlatão o ama e ocupa, portanto, pé no chão nunca deixa de ser uma regra de ouro. Olha bem direitinho, assunta o fato, repara a situação e o ato, vocês lembram-se do laboratório de solos da CEPLAC? Durante anos e anos cuidadosamente amostras de solo foram levadas em caixinhas de papelão, para fazer análise. Isso fez com que todos os solos de todos os lugares da região tivessem uma amostra guardada; era um riquíssimo acervo; um banco geológico. Alguém sabe o que aconteceu? Tudo foi jogado no lixo! Todo o conhecimento de cada pedacinho do solo grapiúna foi jogado no lixo! Como existem pessoas boas, um instituto (ONG) conseguiu recolher algumas amostras, e até montou a exposição (acho que) “Cores das Terras do Cacau” (se eu estiver errado me corrija). Há o risco, do nada, da cacauicultura cair no charlatanismo, afinal quem jogou no lixo um acervo (o orquidário do CEPEC também foi jogado fora, e muito mais coisas.) pode reaparecer travestido. Outra linha é a insistência no cacau cultivado na cabruca, não dá; estive na roça, onde está sombreado não tem mais nada a podridão parda arrasou; este ano foi perdido; não é lavoura é extrativismo, inclusive a CEPLAC reconhece em nota técnica a inviabilidade deste modelo. Citando uma linha que acredito é a cacauicultura irrigada no cerrado, dá certo. Entretanto será preciso criar empatia entre os polos produtores; criar a troca de conhecimentos e tecnologias. Um mercado consumidor formado em conjunto com as terras propícias a mecanização do sul da Bahia, tornará mais acessível às maquinas e terá volume para o desenvolvimento de novas. Sem um aporte urgente de mecanização a cacauicultura fica patinando. Lembrei, existe uma pesquisa de Paulo Alvim sobre cacau irrigado no vale do rio São Francisco, do início dos anos 1970. Este estudo criou um ditado muito conhecido, de que o cacaueiro gosta é de sol na cabeça e água no pé. Outra coisa que lembrei foi de um plantio na Chapada Diamantina feito na virada para os anos 2000, foi uma grande empresa agrícola que fez, não recordo o nome. Bem, terminou dando vassoura-de-bruxa e o projeto fracassou; como precaução é imprescindível estudar e aprender com este fracasso.
Sou otimista, acredito no futuro. Cabe a nós não repetir os erros, o passado serve para ensinar; o recomeço está aí com novas tecnologias e tudo pra fazer. Incluindo escolher nossos líderes; ou escolhemos bem ou ficaremos DANÇANDO. É triste ver que o brasileiro gosta de dançar.
Coronel Xela.

Respostas de 2
Parabéns Alex Terra
Bom esse tema Cacau Voltar , recordar coisa esquecidas e que eram importantes naquele momento e que ajudaria muito agora . Não sabia desta 1ª festa do produtor em Santa Luzia , quanto ao escritório da Ceplac em Santa Luzia , fui seu construtor , minha primeira obra como engenheiro civil da Ceplac . Sabia da doação da área , só não lembrava os doadores . Infelizmente nossa Ceplac estar desta maneira , morta . É culpa nossa cacauicultores . Um forte abraço