Caros leitores,
Finalmente a conta chegou! Demorou, mas chegou. Pois é, muitos cacauicultores estão reclamando da diferença na cotação da bolsa no preço do cacau; enfim do deságio. Como chegamos neste ponto é o nó da questão.
Como ensinava na lista do cacau o saudoso João Arthur (foi economista do CNPC), a comercialização do cacau é controlada por um oligopsônio, daí não há muito que fazer. Quando representei o Instituto Pensar Cacau na câmara setorial do cacau, tinha uma briga besta orquestrada pelo representante da CEPLAC (Manfred Muller) que queria porque queria aumentar a produção do Pará na marra (tudo está nas atas), dizendo que a produção do Pará estava subnotificada. Legal foi ouvir o representante de a AIPC afirmar que todo cacau era comprado e tirado a nota fiscal pelos membros da AIPC, portanto os dados estavam certos; e que a pequena moagem ou o bean-to-bar, mesmo existindo não era suficiente para inflar os números. João Arthur não errou são pouquíssimos compradores.
Uma idéia interessante sugerida por Silvano Pinheiro foi os Armazéns Gerais, eu gostei muito e acredito. Este modelo dá oportunidade, principalmente, para os lotes especiais; também pode ressuscitar o magnífico Blend Bahia e até ofertar coisas exóticas, como um lote só de cacau catongo. Para o mercado interno os Armazéns Gerais funcionam bem, facilita para a pequena moageira; o problemão começa quando pensamos em exportação. O preço recebido lá fora é o preço da bolsa, seja ele qual for; antonce toda vez que for inconveniente ao oligopsônio à exportação, pagarão internamente o mesmo preço da bolsa! E este é o motivo de não mais existir exportadores de cacau, todos quebraram (ainda há a exportação de lotes especiais). Outra vez ouvi numa videoconferência a presidente da AIPC dizer que a solução para os insatisfeitos era exportar; muita sacanagem, já que ela sabe de tudo isso que aqui eu tento resumir. Uma Cooperativa serviria de baliza nos preços, desde que tivesse o ciclo completo incluindo uma moageira; caso contrário venderia as amêndoas para quem!? Caros amigos cacauicultores o deságio não é de fácil solução, está na alma do empresário, na ganância; e serve para financiar ONGs que trabalham para escravizar o cacauicultor. Olha com quem estamos lidando, pouco antes da pandemia, estive num “fórum” da cocoaaction em Brasília (no auditório da CNA… isso mesmo você leu certo.), os caras são mequetrefes é de arrepiar! Ouvi um palestrante dizer que, naturalmente, a indústria compra café na África por trezentos dólares a tonelada… outro palestrante versou sobre trabalho escravo. Ué! Quer dizer que comprar café barato deixa de ser apologia à escravidão desde que tenha uma ONG para trabalhar a imagem? Os caras são fuleiros demais, é de rir. Outro palestrante com um sorriso maroto pregado na cara, contou boas historietas de como o cacauicultor ganhava dois ou três salários mínimos com uma roça de cacau, falava como se fosse uma dádiva do oligopsônio pagar tanto; sua entonação, jeito e trejeito no tratar da figura do cacauicultor, eram como se este fosse “empregado”, e aquela era a remuneração suficiente; tsc, tsc, nada mais globalista partindo de um doente mental globalista. Bem, por tudo isso e por muito mais, o deságio não pesa na consciência da AIPC, simplesmente faz parte do jogo (que sempre ganham).
A internet é uma ferramenta fantástica, é a ágora moderna; daí ví um vídeo em que um cacauicultor fala da dureza e dos estragos que o deságio provoca na lida, no trato da lavoura, no dia a dia da fazenda, nas privações em sua vida, no aperto financeiro; gostei foi muito eloquente, disse tudo. Enquanto falava eu senti emoção em sua voz, mas, algo chamou minha atenção muitíssimo, abalou minh’alma: uma menininha de uns oito pra nove anos (acho) lhe ajudava a encher um saco de cacau; aos meus olhos nada mais natural, certamente, é a filha ajudando o pai e o pai ensinando o valor do trabalho à filha; ponto final. Mas, contudo, porém, todavia, para a AIPC que usando seu cão de caça levou até um representante da ONU para palestrar sobre trabalho escravo na câmara setorial, nenhuma criança pode trabalhar; o estatuto da criança e do adolescente (ECA) tem de ser seguido à risca; dá pra você? Sim, é uma imoralidade. É o falso profeta. Ao mesmo tempo em que o oligopsônio (falsamente) prega o fim do trabalho infantil, neste mesmo tempo, promovendo o deságio eles jogam crianças no trabalho… e com a cara areada com muito Bombril e óleo de peroba moem este cacau, estufando os lucros e barrigas.
Caros o deságio antes de qualquer conversa é uma imoralidade, é um desvio na honra. Todo mundo sabe fazer a continha simples e converter o preço da bolsa. Foi o oligopsônio que quis pagar o preço da bolsa “cheio”, fez isso por muitos e muitos anos, até pagou ágio quando valeu a pena. Agora está capando o preço por quê? Difícil responder. Fácil é conhecer os desdobramentos, há nisso um incentivo a todo tipo de imoralidade. O deságio é imoral, desnuda a personalidade dos falsos.
Coronel Xela.

Respostas de 3
Parabéns pelo comentário!!!
Prezado, uma pequena correção, Brandão Filhos S/A, segue firme e forte desde de 1939, nunca quebrou e nunca pediu recuperação Judicial. Hoje presente a nova geração com Pedro Henrique Brandão, abraços
André
Colegas: quanto seria o valor de uma @ de cacau para o produtor se o mesmo tivesse um cacau de primeira, uma cooperativa forte, uma moageira e o poder de barganha pra vender seu próprio produto? Alguém arrisca dizer ??