Caros leitores,
Sempre deixo despreocupadamente a semana correr, eu nunca me preocupo com o que vou escrever, em achar a inspiração. Por incrível que pareça basta eu pegar meus apetrechos de escrita, e pronto! Vocês já estiveram apaixonados? Sabe aquela boa lembrança, até com um frio na barriga, proporcionada pela paixão; então, é a mesma coisa, o texto nasce assim, do nada. Complicado, né. Para quem não conhece ou tem ojeriza à paixão do amor, sempre há a paixão pelo boteco; ahhhh o boteco. Homem, eu juro por Nossa Senhora do Bom Conselho, eu tomo um copo de cerveja e fico ali naquele trunc, trunc, trunc, mascando amendoim (igualzinho a jegue empacado em roça de milho), daí, do nada, aparece solução para qualquer coisa. Já a inspiração não precisa aparecer isso o diabo manda; tem explicação não velho, no boteco aparece de tudo e, é uma pena eu não poder escrever, afinal, são amigos… mas, como alguns morreram a história caiu em domínio público; são figuraças!
Dizem e eu não acredito que os botecos estão morrendo, que a nova geração não frequenta, que isso, aquilo, enguiço e feitiço; não estou comendo nada deste lero. De fato existe é bebedor amador e botequeiro profissional; assunta: o amador bebe; o profissional toma. Curtir botequim é uma arte e é necessário ser artista para ser aceito nesta complexíssima confraria social; Raulzito, o gênio, filosofou: “falta de cultura para cuspir na estrutura”. Esqueça botequeiro não frequenta bar final de semana, curti em casa um drink. Sim um drink! Eu tomo o drink do coronel (Whisky com côco de licuri congelado), outros preferem a meladinha, ou rabo de galo, ou gim-tônica; até água tem de acrescentar umas gotinhas de limão. Beber bebida pura é heresia, fere as regras; beber é para amadores. Aliás, é o amador que lota o festival do torresmo (na verdade couro de espinhaço com um tiquinho do que seria torresmo), o hambúrguer fest; diz que é uma delícia um escaldado mal cozido de pescoço de peru; prestigia o descolado barzinho da (medonha) tripinha frita (lá ele!), faz fila para entrar na (que diabo é isso!?) casa noturna e engolir uns tais grelhados; mais isso e aquilo na pedra, tudo ajambrado para maquiar a falta de esmero no preparo; quando um cliente reclama que os legumes estão crus, o “chefe” aparece para explicar que aquilo é o “ponto aU dente”… daí ficam com caras de felizes mastigando igual a jegue em roça de milho. A camisa pode jogar fora depois de frequentar uma casa noturna, é uma catinga de sebo dos infernos de fora, nem lavando com ácido muriático consegue salvar. O garçom é um espetáculo a parte, cada um prima mais que o outro em como jogar a comida na mesa (a toalha fica embaixo de um tampo de vidro, daí o prato fica rodando) como quem joga comida para porcos; adoro apreciar a cena dantesca. Sendo em churrascaria a cena é mais dantesca ainda, pois o peão tem de comer e sair rápido; entendo isso não, mas tudo bem; ademais as boas carnes sumiram hoje o que vale é o nome pomposo, basta servir carne de focinho, de sobrecu, de ponta de costela, todas com nomes lindos; a maçã do peito virou legítima picanha; língua é servida como filé mignon. É dura a vida do amador, só leva fumo e nem vou entrar na questão do preço, pois aí é relativo. Tem mais, apareceu uma moda de às 14:00 horas o garçom mandar fazer o pedido, pois as 15:00 horas o restaurante fecha… a boêmia de chegar ao meio dia e só sair a meia noite não é mais para qualquer um!
Sou bom de garfo, um glutão e de boêmia eu entendo um pouco, talvez um pouquinho; o suficiente para dizer que o modelo de barzinho não acabou; que a clientela não diminuiu mesmo com a péssima música tocada e o drink mal feito; que a vida noturna não está em crise. Está em crise a gestão da casa e o treinamento dos funcionários; falta arte em tudo, desde o servir até a arquitetura da casa, passando pela arte da conversa despretensiosa.
E eis a secreta sociedade etílico-cultural segunda-feira sem lei! Só para profissional. O partícipe que descobre um boteco dá a dica (nunca convida; só dá a dica), então os iniciados vão chegando. É um mundo de cabeça para baixo, é o mesmo cozinheiro da casa noturna, o mesmo garçom, o mesmo músico, o mesmo cantor, entretanto tudo agora é feito com arte! Cada dia uma iguaria: galinha caipira com batatas, azeitonas e macarrão italiano (não sei de onde vem); picanha assada lentamente na brasa com farofa de manteiga e vinagrete; caças importadas da França; bode no molho de alecrim; o tradicional ovo de codorna acompanhado de diversas maioneses e molhos, especialidade feita e ricamente servida por meu considerado Pinho Bufa Pinga; sim os clientes podem brincar de chef. Potência o cabra, de sua última viagem à França trouxe duas cartelas, e bem, o povo conta, eu não invento nada, aconteceu de duas Iaiás emprenharem; sei lá, os ovos deviam estar radioativos. Outra potência, minha autarquia do saber, é o Comandante Marviu, sempre de alpercatas e com duas colheres na mão que servem tanto para comer como para batucar. Certa feita, entre um gole e outro, na levada de pecado capital (Paulinho da Viola) o comandante parou de batucar as colheres, puxou-me pelo braço e muito sério perguntou: Coronel, aqui alguma mulher já veio buscar o marido? Você sabe que dá azar, não sabe Coronel? Boteco bom só pode ter artista.
Coronel Xela.

Respostas de 5
Malandro é malandro….. mané é mané!
Infelizmente,boteco tradicional está em extinção, não pelo dono,pois sempre vai existir um “Jair”,mas pela geração de perdidos e sem personalidade.
Já tivemos grandes botecos,hoje tudo é “gourmet”.
FIM DOS TEMPOS !
Olá Xela . Verdade “ estamos vivendo um tempo tão estranho mas tão estranho que até a Boêmia está padecendo “ . Até quem não vai como eu , está com medo até de beber água . Abrs
Buteco pra fazer jus a esse nome, tem que ter freguesia de faixa etária maior que 60 janeiros e história pra contar de antigos botecos.. kkkkk
A difícil vida do botequeiro!!
Até mesa de carretel da companhia de energia agora é “estilo”….
Ao retornar a VDC percebi que os botecos dos anos 90 estão todos gourmetizado, acredito que com o objetivo de sair no Instagram de algum “influenciador” digital.
Lamentável….
O meu amor chorou, não sei porque razão,também pudera, eu não estava acostumado com a vida de casado, faço força pra ficar em casa sossegado, mas amor, e tão difícil a gente se conter, antigamente a minha vida era de bar em bar pelas ruas da cidade, a lua sai , a gente vai, e fica pela rua até amanhecer e quando os bares fecham ainda resta alguns butecos pra tomar a saideira. Mas prometo um dia mudar de vida pra meu amor não chorar mais. Rsrsrs….Amigo coronel Xela, me lembrei dessa música, e num espírito de nostalgia resolvi colocar um pouco dela aqui. Abraço