Caros leitores,
Nascido na nobreza, a mando do conde de Sandwich (John Montagu. Quarto conde de Sandwich), foi preparado para satisfazer seu exigente paladar; ingredientes nobres bem harmonizados delicadamente arrumados entre duas pequenas fatias de pão. Ao contrário do muito apregoado sobre a vida do lord John Montagu –que era só um jogador compulsivo- ele foi influente no reino. Foi secretário de estado e primeiro lorde do almirantado da marinha real britânica. A prova de sua influencia na vida quotidiana inglesa está na homenagem feita por James Cook, explorador e cartografo, que nomeou duas ilhas próximas ao Havaí: ilha Sandwich e ilha Sandwich do Sul. J.A. Dias Lopes –sou fã de seu escrever elegante- escritor, autor de livros sobre gastronomia, cravou o ano de 1762 como a data de nascimento do sanduíche. Este ano a Inglaterra comemora os trezentos anos de nascimento (1718) do conde de Sandwch.
Diferente da forma que é conhecido hoje, o sanduíche era servido no prato, em pequenas porções; até hoje nota-se, no servir, a sutileza: muitos sanduíches, principalmente os que não foram inventados nos Estados Unidos, vêm delicadamente cortados ao meio. No reinado da rainha Vitória era apreciado e considerado comida requintada, onde, provavelmente, em algum castelo, alguém acrescentou um delicado e complexo complemento, o molho de mostarda. Se o sanduíche, hoje, é um incompreendido o que dizer da mostarda? Foi o casamento dos incompreendidos.
Citada na Bíblia “… se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda,…” é a menor das sementes, mas quando cresce é a maior das hortaliças. No império Romano, quando as especiarias ainda não chegavam com abundância na Europa, a mostarda era usada como tempero e também, para conservar as carnes. Dos muitos tipos de mostarda a mais perigosa é a preta; cultivada e consumida na Índia –seu consumo é proibido nos países ocidentais- é muito tóxica e, mesmo o óleo, pode matar uma pessoa. Os Indianos conhecem as nuances do complexo uso na alimentação humana dessa mostarda preta, com isso, fazem bons e elaborados pratos. É como a moqueca de baiacu, só baianas conhecedoras, com mãos de fada, consegue preparar essa deliciosa iguaria. A mostarda branca e a mostarda castanha são as mais usadas na culinária ocidental desde o século XIII, quando, a cidade de Dijon, na França, tornou-se um centro produtor. Foi em Dijon que algum alquimista resolveu dissolver os grãos quebrados da mostarda em vinagre –antes usava cerveja ou vinho- o que fez baixar a acidez e estabilizar o sabor picante, daí, em 1856 a mostarda de Dijon ganhou o “selo real”, sendo, esta a forma de molho que conhecemos hoje. O molho de mostarda inglês tem perfume mais intenso e sabor picante, não tem açúcar ou especiarias em seu preparo, leva só: vinagre, água, mostarda, sal, cúrcuma (açafrão) e páprica. Vejam as coisas da vida –adoro a palavra vida, para mim, a mais completa palavra-. Quando se deu a independência americana o almirante responsável pela armada inglesa, era o conde de Sandwish, que temendo uma invasão francesa, reteve os navios ingleses próximos da Inglaterra, com isso, dando vez ao sucesso da independência americana. Às vezes me pergunto se não tem o dedo de Deus nessa relação da identidade do povo americano com o delicioso sanduíche.
Em meio a tantos imigrantes, é impossível, não ter um lord inglês falido. Acostumado aos bons costumes, às delícias da mesa, a comer os miúdos sanduíches e pensando daqui, pensando dali, o que fazer da vida? Vender sanduíches!! Não tinha dinheiro para montar um restaurante grande? ora, cria o conceito chic de comer em pé na calçada, em frente de uma portinha. Os pratos e talheres eram insuficientes? Basta enrolar o sanduíche no papel e dar de graça para os artistas comerem; o conceito vai crescendo. Onde mais existia liquidez do dinheiro, no porto, as pessoas reclamavam do tamanho da porção e, então, o sanduíche cresceu; a fórmula continuou: Pão, carne, queijo, alface, tomate e molho de mostarda. A separação acontece para atender o paladar desses novos clientes, os trabalhadores do porto, que não acostumados ao gosto da mostarda, estranhavam. Pronto! O molho de mostarda passou a ser botado no sanduíche pelo freguês, conforme seu gosto.
Pode-se falar o que quiser do conhecidíssimo hambúrguer, porém, dizer que é um prato plebeu é mentira deslavada. Também é um atentado à boa mesa servir hambúrguer acompanhado de molho de mostarda que contém açúcar. Recentemente, comi um bom hambúrguer numa badalada hamburgueria brasileira, conhecidíssima. Pão crocante, carne saborosa, o sanduíche não desmanchava, tudo certinho no lugar, mas, a mostrada era ruim! Mostarda brasileira, com adição de açúcar; azeda e adocicada. É a mostarda que equilibra o sabor forte da carne, ela é integrante do sanduíche. Quem considera mostarda acessório, peca. Na próxima vez, levarei molho de mostarda de casa; se a hanburgueria permitir.
Fim.
Alex.