Caros leitores,
É difícil saber quantas histórias diferentes, sobre o natal, cada pessoa já ouviu. A forma como ouve, é a forma como conta e lá se vai uma história transformando-se em historinha, cada vez mais e mais. Não dá para questionar se está escrito na bíblia, o livro sagrado. Não tem como. E está escrito: “E ela deu a luz a seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.” E só. Agora, só pode ter sido do inferno de dentro de onde se tirou essa idéia de que Jesus nasceu pobrezinho. Certamente quem conta isso é o mesmo que conta sobre a proibição de tomar bebida alcóolica; proibição inexistente na bíblia. É uma questão de história.
Nessa época não existia tratamento de água. A única forma de manter-se hidratado sem o risco de se contaminar era bebendo vinho ou cerveja. Impossível aos profetas proibir o que era vital. Talvez, se a bíblia fosse escrita hoje, os profetas adotassem tal proibição. Continuando nas rasteiras da história, durante a preparação do concílio vaticano II, inventaram outra barbaridade, e, o papa Pio XII caiu (Deus sabe como, ou o motivo): criaram o São José Operário, baseado no latim falado no ano I que usava duas palavras para designar o trabalho, com significados diferentes: uma para trabalhos manuais e outra para trabalhos ligados à arte. Amarraram tudo com alguns trechos escritos por Aristóteles, Cícero e assim nasceu São José, pobrezinho. Há cem anos ter e manter uma caixa de ferramentas para carpintaria era difícil, imagine isso há dois mil anos! Bote agora a complexidade da profissão de transformar a madeira bruta em produto acabado; não é fácil. No ano dois mil, quando se comemorou os quinhentos anos do descobrimento do Brasil, a Universidade Federal da Bahia tentou fazer uma caravela. Quantos engenheiros, quantos doutores, quantos mestres deram ‘pitaco’ na construção da caravela. Depois de pronta, a caravela não navegou! Afirmo, não é fácil ser um carpinteiro. É um assunto fascinante, mas ficará para outra oportunidade.
As dificuldades eram enormes, não existiam remédios, vacinas, nada. Deus precisava nascer como homem e no meio dos homens; tudo tinha de ser normal, dentro da normalidade, nada podia chamar a atenção. Pelo fato Dele nascer para combater tudo que existia, não permitia a Ele nascer num palácio. Entretanto em Mt 8, 20 diz “As raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos; mas o filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. Não existe como não fazer uma profunda reflexão –coisa que faço durante os longos percursos quando estou viajando para a fazenda. Chego à imensa inversão de valores existente na figura e na mensagem de Jesus. Ele não pertence ao mundo importante e poderoso, contudo, precisamente, revela-Se importante e poderoso pelo motivo de trazer em Si a verdade, a palavra verdadeira. Já pensou a confusão que daria se Jesus nascesse numa hospedaria na cidade, ademais a hospedaria poderia ser fria. Na gruta, a companhia dos animais aqueceu o ambiente, tornando mais propício ao nascimento. Sem contar que não era absurdo aproveitar o calor dos animais; até hoje, há uma vestimenta usada por cavaleiros que aproveita o calor do cavalo, durante o inverno. Vencido essa parte do nascimento na gruta, vamos adiante.
Maria acolheu Jesus nos braços e deu de mamar. Ele estava limpo, aquecido, e dormia numa manjedoura. Nenhum absurdo ou sinal de pobreza nisso, até poucos anos, os colchões com enchimento de capim eram comuns. Observando qualquer mulher saudável, é possível imaginar o amor com que Maria aguardara a sua hora; a preparação do enxoval (“envolveu-O com faixas”). Jesus não nasceu desprovido de um enxoval, também não foi botado na manjedoura, no capim, essa é a forma que queremos imaginar, hoje. A manjedoura foi o seu berço, limpo e confortável. José era carpinteiro, não foi por acaso que Deus escolheu José para ser o seu pai; usando as habilidades inerentes a profissão, ele fez da manjedoura o melhor berço possível e com o capim disponível confeccionou um colchão. Jesus precisava viver como homem no meio dos homens com o que os homens tinham; nesse contexto José tinha muito para dar, era riquíssimo, tinha o dom da inteligência. Amamentando, Maria sentiu uma profunda ternura só possível a uma mãe, um profundo sentimento, e sussurrando compôs a mais bela canção existente:
Noite feliz, noite feliz
Ó senhor, Deus do amor
Pobrezinho nasceu em Belém
Eis na lapa, Jesus nosso bem
Dorme em paz, ó Jesus
Dorme em paz, ó Jesus
Noite feliz, noite feliz
Eis que no ar vem cantar
Aos pastores os anjos do céu
Anunciando a chegada de Deus
De Jesus, Salvador!
De Jesus, Salvador!
E Jesus dormiu agarrado ao peito de Maria.
Os anjos anotaram tudo, nota musical por nota musical e se encarregaram de fazer essa canção chegar até os nossos dias.
Mais de trezentos anos após esse acontecimento, Santo Agostinho, numa interpretação só possível aos Santos, explicou o significado do nascimento na manjedoura com uma verdade profunda. Para a aceitação dessa verdade é preciso uma profundíssima reflexão. A manjedoura é o lugar onde os animais encontram o seu alimento, e até uma forma de amansar os animais. Jesus está na manjedoura; o verbo encarnado, o pão descido do céu, a verdade pura como verdadeiro alimento de que o homem necessita para ser pessoa humana. É o alimento que dá ao homem a vida verdadeira. É comendo e bebendo na manjedoura (alusão à mesa de Deus) que o homem é convidado a realizar o mistério da redenção. Isaías 1, 3: “O boi conhece o seu dono, e o jumento, a manjedoura do seu senhor, mas Israel é incapaz de conhecer, o meu povo não pode entender.”
O tempo teve de passar e passou muito tempo desde que Maria compôs a canção. Os instrumentos musicais precisariam ser aprimorados para poderem exprimir todas as notas, toda a beleza. Mil e oitocentos anos após, era chegada a hora e afinal anjos existem para isso! Um rapazote -doze anos-, (filho de um maestro, professor num convento e afinador de piano nas horas vagas) teve uma iluminação: ensinar a pássaros a canção natalina. Com afinadíssimo ouvido o rapazote notou que os pássaros faziam pequenas correções nas notas musicais; ao longo de dois anos, ele dedicou-se a ensinar, ouvir, corrigir e anotar a belíssima canção. Quando o rapazote achou por bem, apresentou ao seu pai; que executou a canção no piano, ficando maravilhado.
Os anjos existem, de fato. Tendo a música natalina, perdido, ao longo do tempo, muito de sua beleza, os anjos agiram e recuperaram a esplêndida composição de Maria. Feita para ninar o Deus-Menino.
Desejo a todos um natal de profunda beleza. Que a música, Noite Feliz, lhes proporcione uma prazerosa reflexão. Jamais devemos esquecer que a verdadeira riqueza Deus dá sem limites e a qualquer pessoa.
Fim.
Alex.