Caros leitores,
É uma soma interessante: definição de meta mais dedicação mais trabalho. O resultado é sempre um presente virtuoso ou, um futuro bom. Um jovem, aos dezoito anos, tem sua meta definida; com dedicação e estudo (trabalho) em poucos anos estará formado. Seu futuro aconteceu. Novo ciclo, novas metas: comprar um carro; comprar uma casa; casar… Tudo será resultado da dedicação e do trabalho. A taxa de sucesso é proporcional ao rigor imposto ao cumprimento, aliado a finalidade da meta – são pouquíssimos os que, já no primeiro carro, compram uma Ferrari.
Para prever o futuro basta olhar para o lado; é simples assim. No, gostoso de ser lido, livro de Gabriel García Marques, Crônica de uma morte anunciada, todos os habitantes do vilarejo sabiam do que aconteceria, e aconteceu. Olhando para o lado vejo a piaçava e enxergo para onde vai a cacauicultura; para lugar nenhum! Sem metas, sem política, jogada no extrativismo. Uma enorme cadeia produtiva foi destruída, hoje, a fibra perde nos pés. O coquinho, que era vendido em barracas na beira das estradas, as novas gerações não conhecem – partir esse coquinho exige coragem e destreza, se perder a cutilada do facão, perde a mão; lá ele. As consequências foram o empobrecimento, o desemprego, a perda do conhecimento e da destreza dos trabalhadores desse segmento. Na cidade nada mudou todo mundo continua varrendo suas casas, a indústria continua produzindo; não como antes, mas, bonitas vassouras com cerdas de nylon e cabo decorado. Essa historinha ilustra bem a importância que o consumidor dá para as coisas; nenhuma. O consumidor compra o que existe e acostumado com as novas e bonitas vassouras, dificilmente voltarão a comprar as feiosas vassouras de piaçava. É com a vassoura que se varre o lixo para debaixo do tapete.
Olhando para o outro lado vejo o café e confirmo o acontecido com o cacau; com o “blend Bahia”. Foi em Brasília (quando fui para a reunião da câmara setorial do cacau) que entrei numa loja física da Nespresso, e para minha tristeza, onde soube do fim da produção do café Dulsão. É o legitimo café brasileiro, incomparável; tem cheiro, tem “flavor”. Era o único café que eu gostava; tomava puro, sem açúcar, acompanhado de duas bolachas cream cracker passada geléia de cacau. A Nespresso enviou, de brinde, um kit com uma seleção de cafés, mas, nenhum me agradou, falta o “flavor”. O mundo não deixará de tomar café, a indústria não deixará de produzir, o consumidor continuará comprando café; a próxima geração não saberá nem que existiu esse tal de Dulsão. Foi uma preciosidade que se perdeu e pelo motivo, de o Brasil não conseguir produzir em quantidade e qualidade suficientes. Conheço uma fazenda que produz esse tipo de café –a casca é amarela- difícil de lidar; o diagnóstico não é difícil: o governo precisa mudar as atuais regras. Não mudando, outras preciosidades desaparecerão.
Sabido o comportamento do consumidor e da indústria, o cacauicultor, tem de encarar a vida, sozinho, aceitando as implacáveis leis econômicas, admitindo, que a única solução possível é tecnologia aliada a regras justas. Tecnologia existe, podemos plantar cacaueiros em estufas, colhendo, talvez, trezentas arroubas por hectare ou mais, mas, não temos regras. Também não é viável cultivar o cacaueiro na estufa até começar a produzir, algum viveirista terá de entregar as mudas com dois ou três anos, começando a frutificar; demanda regras. Precisaremos de cacaueiros adaptados ao cultivo em estufas, com a arquitetura da planta padronizada, facilitando a colheita mecanizada, aliás, coisa já existente na colheita da pimenta. A colheitadeira colhe e “vendo” a pimenta por dentro, separa as ruins. Uma colheitadeira de cacau poderá separar os frutos até por estágio de amadurecimento, permitindo, a um bom mestre chocolateiro deixar o cacau seco com um “flavor” padronizado. Tudo demanda regras… Lembrei de um caso interessante acontecido no sul do país, numa fazenda cultivada com cebola. Após a colheita a cebola é deixada no campo por três ou quatro dias para secar, só depois é que vai para o galpão para o beneficiamento. Aconteceu de uma chuva de granizo cair, danificando toda a cebola. Foi uma briga dos infernos com o banco, por causa do seguro. Para o banco a colheita acabava com a retirada da cebola da terra; para o fazendeiro a colheita só acaba quando a cebola é recolhida e levada para o galpão. Nada foi encontrado na literatura existente sobre a cebola, a respeito disso; então um estudo foi encomendado, para balizar a questão.
Sem metas, sem regras, a cacauicultura afundará no extrativismo. As regras existentes afundam o cacau rumo a esse fim, rumo ao cacau cabruca, rumo ao teia de povos, rumo à subsistência. Não existem regras em prol da cacauicultura moderna, infelizmente. Continuando as coisas como estão tudo continuará como nesse prédio da CEPLAC em Canavieiras, onde funcionava o depósito de insumos agrícolas; tudo deteriorado, tudo se deteriorando devagar, tudo sendo desperdiçado, tudo sendo conduzido para a fome e a miséria. A próxima geração não lembrará mais nada, prezará a vassoura pela leveza e beleza, jamais pelo bom varrer.
Fim.