Caros leitores,
Custos, quid de nocte? [Sentinela, o que houve a noite?]
É preciso muita percepção, muito “felling” da parte do líder. É o líder que escolhe o sentinela e nele deve confiar ou não; são seus olhos e sua alma durante a noite. O mínimo erro e muitos soldados serão perdidos, com efeito, a história do líder vai para o lixo. Nessa noite de 30 anos que a cacauicultura vive, tivemos vários sentinelas; conhecidos e anônimos.
O cargo máximo da CEPLAC está vago, logo alguém será nomeado; é uma responsabilidade enorme. É um novo governo, com um viés alinhado com os anseios dos cacauicultores. O desafio a ser enfrentado não será pequeno, terá de reconstruir a cacauicultura tirando da condição atual de extrativismo ou de cultura complementar. Terá de modernizar a lavoura tornando-a lucrativa, o que demandará uma soma considerável. Terá de construir e dar condição para que a próxima geração enxergue a cacauicultura como um negócio viável, tocado sem culpa ou medo. Terá de resolver o problema do endividamento de forma possível e viável. Terá de desentulhar a legislação que hoje mais serve para engessar os fazendeiros e terá de resolver o que mais ocorrer. Sinceramente, rezarei pela alma do próximo diretor geral; não será fácil.
A rachadura no tecido social alargou-se de tal modo, criou, tal desconectamento na realidade, (a realidade vivida pelos cacauicultores, da realidade imaginada pelos mandatários) que recentemente numa conversa com um deputado reeleito, falei do problema do endividamento e, surpresa das surpresas –velho, fiquei de boca aberta- ele pediu para mudar de assunto pois não aguentava mais essa prosa de endividamento, pasmem, afirmou que sobraram poucos cacauicultores endividados! Notem, a mentira do equacionamento das dívidas foi tão repetida que prevaleceu! Assim só com muita reza caro futuro diretor geral, as coisas acontecerão; rezarei pelo fortalecimento de seu espírito. Rezarei para seus olhos não ficarem obnubilados, ou hipnotizados pelas coisas terrenas tendendo a sonolência eterna. Rezarei por sua postura não ser de imobilidade. Rezarei para seu espírito ser meditativo, refletido, orante e profundamente desconfiado da agitação nas amizades, o que conduz a falsa mística. Rezarei para você não esquecer os sentinelas. E sempre que sentir o espírito fraquejar das coisas verdadeiras, ruins, os acontecimentos vividos pelos cacauicultores nesses 30 anos, visite o prédio do CNPC; assim como nas fazendas, como na vida do fazendeiro, também ali tudo foi intencionalmente destruído.
Todo aquele que resignadamente manteve sua fazenda, muitas vezes, com prejuízo e acreditou, procurou e difundiu aquilo que conseguia fazer melhor, é um sentinela; sozinho manteve a chama acessa. Todo aquele que resignadamente entrava no prédio da justiça do trabalho, e lá ia deixando, o trator, o carro, a casa de praia, a junta de bois, um pedaço da fazenda, a fazenda inteira; tudo acontecia e o cacauicultor não entendia, não compreendia, só obedecia, é um sentinela. Todo aquele que resignadamente viu, bandoleiros invadirem sua fazenda, depredarem tudo e nada poder fazer, é um sentinela. Todos que testemunharam a devastação acontecida no sul baiano, são sentinelas anônimos. Pagaram a conta da revolução socialista em andamento no Brasil que, graças a Deus, foi freiada. Quanto aos mais pobres, despreparados, estes pagaram a conta com suas vidas ou com a vida dos filhos, antonce, se estão mortos ou sem nenhum brilho na vida, como vão testemunhar?
Ao passar a porta de entrada do escritório da CEPLAC em Brasília, você terá uma rara oportunidade. A oportunidade de fazer a coisa certa, do modo que o povo brasileiro balizou nas eleições e sabendo o querer do cacauicultor. Poderá ouvir os sentinelas. Será sabedor de que “a maioria do público brasileiro, nos dias de hoje, pensa basicamente o contrário do que pensam os jornalistas e os donos dos meios de comunicação. Tem valores opostos aos dos comunicadores” (texto de J.R.Guzzo). Saberá que o discurso prosa ruim de Marina Silva foi democraticamente enterrado; o brasileiro quer comida farta e barata na mesa; esse foi o recado. Ao passar por aquela porta, você estará só. Todo líder é só. Ninguém poderá lhe dizer o que você vai fazer. Você contará só com suas convicções. A chance de tudo dar certo é grande, quase tudo está pronto, existe tecnologia, existe vontade política, existe vontade de mudança, existe vontade do cacauicultor voltar a tocar a fazenda; existindo vontade de sua parte, então, conhecerá a glória. O outro caminho acontecerá se ao passar por aquela porta suas convicções titubearem. Certamente achará aconselhamento farto, então virará as costas para os sentinelas, afinal, o povo que cale; para que perguntar: Custos, quid de nocte? Agindo assim sua história irá para o lixo.
Ordeiramente, silenciosamente, democraticamente o povo brasileiro disse qual o rumo do Brasil. Também deixou claro tudo o que é indesejável. Está fácil de vêr. Tente! vêr. Verdadeiramente desejo a você boa sorte, estou torcendo muito.
Cordiais saudações,
Coronel Xela.