Caros leitores,
É preciso notar o viés. Ninguém muda, isso é fato; é preciso atentar para as falas, as intenções, o conhecimento da causa, os modos e, tratando-se da coisa pública até da vida da pessoa escolhida para gerir o bem público. O atual presidente do Brasil está coerente, nos atos, com as falas de campanha. Conheço Ronaldo Caiado há 30 anos (claro que provavelmente ele não lembra, de minha pessoa) e acompanho sua vida pública; nunca mudou o viés. Isso é bom.
O mundo mudou, as pessoas mudaram (uma nova geração), a tecnologia avançou. Antes recebíamos as informações de poucas fontes, quase um produto acabado, daí a percepção do que era uma liderança ser difusa e distante. Estando difusa, quanto mais pessoas fosse possível atingir melhor era aceito como liderança, então bastava não dizer nada, ser evasivo. O bem e mal deixou de existir e bem vindos ao mundo do mais ou menos. Os problemas continuaram existindo e para resolvê-los se criava mais problemas; era o mundo compartilhado das comissões de gestão que tudo faz e nada resolve. Qualquer pergunta feita ao líder e a resposta é a evasiva: “Vamos resolver esse problema, nomeamos um comitê gestor para estudar o caso”. As falsidades foram se sobrepondo e ganhando importância, o medo foi difundido; para resolver o problema da falta de água basta botar na população o medo da falta de água. Para resolver o problema da falta de educação no trânsito basta botar na população o medo de ser atropelada, e tome quebra molas. Para resolver o problema da cacauicultura, ora, basta criar mais problema e meter medo no cacauicultor; medo da monília; medo de não poder vender o cacau pela falta do registro de origem. Logo inventarão a precisão de ter de passar, antes de vender o cacau, na Universidade Federal do Sul da Bahia –no terreno da CEPLAC- para o vendedor ser ungido por um abençoado professor com uma sonora bufa na cabeça. E ninguém duvide disso! O saudoso professor Albergaria, contava em suas crônicas (escritas ou faladas) o submundo pervertido das universidades; grande Albergaria!
É fácil achar a materialização o vêr acontecer, ao vivo e a cores, da política do medo. É algo medonho! Está acontecendo, mais explicitamente, nas pequenas cidades onde a maioria da população já desistiu e aceitou sua sina. O ente sagrado é a ‘prefeitura’ e dali só sai destruição; todas as vidas são sugadas, ninguém mais trabalha, só esperam. Existindo uma padaria o sonho é vender cem pães para a prefeitura –sim, nas cidades pequenas os sonhos são pequenos-; existindo um barbeiro o sonho é a ‘prefeitura’ contratar o corte do cabelo de cem alunos. Dos cacauicultores o sonho é vender cem cachos de banana ou alguns sacos de limão, quem sabe uns saquinhos de jenipapo –tudo fruto do extrativismo- para a ‘prefeitura’ usar na merenda escolar. Trinta anos é muito tempo, a maioria, acostumou-se a ter um carro alugado para a “saúde” na prefeitura; ou ter a mulher contratada como professora; ou o filho –nascido pós vassoura-de-bruxa- contratado para um plantão no posto de saúde e, de quando em vez receber do meeiro dois ou três saquinhos de cacau vindo da fazenda. Não é uma vida ruim não! É uma boa vida. Quanto a vida do meeiro não é muito diferente: mora na cidade, só aparece na roça para colher o cacau; recebe dinheiro das transferência do governo, até auxilio aos pescadores recebem; muitos são aposentados; usam o contrato de meação para tomar dinheiro no banco que depois o governo perdoa e etc… É uma boa vida. Quanto a vida da aberração conhecida por agricultor familiar, não tenho comentários; são tutelados do estado.
Caros, está aí o perfil social –de forma rápida e grosso modo- do viés político dos últimos trinta anos. Não se resolveu nenhum dos problemas da cacauicultura e criou-se dependência, uma simbiose onde o simbionte privilegiado é o poder público sugador de recursos. É um modelo condenado ao fracasso; não existe geração de novas riquezas. O modelo ainda se sustenta devido ao sistema de repartição, o pacto federativo, que privilegia o número de habitantes, assim, os municípios superavitários, bancam os municípios deficitários sem exigir contrapartida. A sucata do patrimônio da CEPLAC é a parte visível da corrosão da riqueza acontecida no sul baiano; são testemunhas. A riqueza depois de criada, ou é corroída pela inflação ou é consumida pelo mau uso; jamais desaparece. O riquíssimo patrimônio da CEPLAC foi consumido e é prova viva das incompetências administrativas, sendo a jóia da coroa a dação (irregular?) de bens para a universidade e –olha ela novamente!- as prefeituras.
Cabe ao futuro diretor geral da CEPLAC alinhar-se ao viés balizado nestas eleições; o cacauicultor quer mudanças, então, qual a proposta do novo diretor geral? Qual seu plano de trabalho? Quais são suas intenções? Será de grande valia, de grande delicadeza e comprometimento com os cacauicultores, se, ao passar pela porta do prédio do MAPA, o primeiro ato seja a publicação de seu plano de trabalho e compromissos. Na singeleza desse ato está a salvação da cacauicultura. Não é desafio, é obrigação. O novo diretor geral não pode errar e também não pode experimentar; tem de chegar prontíssimo.
São muitas às vezes na vida que nos encontramos num deserto de sal e perguntamos: “Meu Deus, porque eu?”. É complexo e difícil de sobreviver, afinal só o diabo pode dar um deserto de sal para alguém sobreviver. Deus tem mais, dá a inteligência. No deserto de sal, em Utah, um cidadão ficou milionário promovendo provas de quebra de limites de velocidade para motos e carros. Fez uma pessoa sair da Nova Zelândia só para quebrar um recorde, virar lenda. É um bom filme “Desafiando limites” com Anthony Hopkins.
Cordiais saudações,
Coronel Xela.