Caros leitores,
Fácil; não foi. Difícil; não foi. Custoso; foi muito. Então como? Deus proveu. Não é simples, mas também não foi impossível. A Curadoria nasceu, cresceu, desenvolveu o assunto, e fez chegar ao conhecimento do ministério da agricultura; o descaso com os “bens” da CEPLAC não é mais algo virtual, existe. Enfim, missão cumprida! E agora?
É impossível a um comunista à tôa conceber uma igreja, não existem, na sua cabeça, as abstrações necessárias; também desconhece a virtude da reza, a complexidade da confissão e seu inviolável segredo, a doação seja de dinheiro ou ações. Na feia, desconfortável, ameaçadora catedral de Brasília, eu rezei em agradecimento. Por muito tempo fiquei contemplando a Virgem Maria com seu filho morto no colo (replica da Pietà) e senti minh’alma, delicadamente, vestir meu corpo. A metafísica é algo, que quando não é conhecida, torna-se assustador. E sim, eu pedi. Não pedi sucesso na minha empreitada, Deus não pode dar isso, também não pedi reconhecimento, conforto, um copo d’agua, ou o ar condicionado regulado na temperatura certa; sequer proteção eu pedi. Livrai-me de todo mal, foi o meu pedido e isso Deus pode dar a qualquer pessoa.
Agora é hora vamos viajar no tempo. É assunto para um livro, vou condensar; não tendo espaço de outra vez conto mais. Tudo foi operacionalizado no governo do abestado Fernando Henrique –alcunhado de F.H.C. Para mim é B.H.C. parente do D.D.T. – que enquanto brincava de ser amiguinho dos Clinton o Brasil navegava para as cucuias. Uma idéia que já tinha não dado certo foi ressuscitada, são as câmaras e conselhos. Vamos para o mais próximo da realidade vivida, são os conselhos municipais de educação, saúde, etc… Todo mundo sabe que existem e sentem suas deliberações, daí, quantos participam, opinam ou quando nada cobram deliberações dos participantes? Como a população audita se o seu voto está em conformidade com as deliberações das câmaras/conselhos? Não faz e não tem como, no inconsciente coletivo do brasileiro está internalizada a democracia representativa; votou, acabou o recado está passado. Sacou! Satanás está com a faca e o queijo na mão. As câmaras/conselhos são formas de democracia impositiva disfarçada de democracia direta –a democracia direta, também é uma droga e a história já descartou-. O estado tem o poder de mando e é dono do cofre; ao mandatário é delegada a posse da chave do cofre e ao satanás é devido botar na sopa os temperos necessários, empurrando tudo para o poder absoluto. Nesta altura das coisas, dona ‘teoria’ foi beber umas geladas no barzinho de minha comadre Chunda, restando, a vida como ela é. Ahhh as delícias de ganhar um emprego de professor; sendo professor, ganhar uma coordenação e mais, e mais… Tudo isso numa cidade onde não existe nada além do emprego na prefeitura, é uma delícia. O preço é não ser mal criado, aceitar tudo; o mandatário gastará o dinheiro como ele quiser nada será feito, nenhuma conta será prestada; cobrado, a resposta está na ponta da língua: o conselho aprovou. Fim. Note a peste: o estado trabalha contra o povo, dá condição de surgir um El Rei com sua nobreza, e ao povo sobra o analfabetismo, as pragas, doenças e morte. Todos conhecem essa realidade.
Não tem que ficar com mimimi, tem de encarar; se o que existe é a câmara setorial do cacau é para lá que eu vou. Fui e levei o recado da Curadoria, ninguém, nem na CEPLAC, nem no ministério, nem entre os cacauicultores pode dizer desconhecer o problema do abandono dos bens da CEPLAC. Missão cumprida! Os problemas… O problema é que agora a coisa só anda com a política pelo meio; quem se habilita?
A câmara setorial do cacau pouco difere dos conselhos municipais, a CEPLAC é dona e senhora da situação, aliás, uma senhora viciada de longa data, suas imposições começaram no antigo Conselho Consultivo dos Produtores de Cacau, onde ganhou expertise. As demandas, inclusive por pesquisa, deixaram de nascer nos cacauicultores, passaram a nascer na CEPLAC e serem impostas aos cacauicultores. Nunca, jamais, em tempo nenhum a cacauicultura sairá do atual miserável estágio enquanto essa realidade existir. O vício da CEPLAC em suas imposições; sua certeza de impunidade; sua confiança no modus operandi é tal, tamanha é sua prepotência, que não titubeou em descaradamente plagiar o projeto da Curadoria, nascido, debatido, ampliado e desejado pelos cacauicultores. Simplesmente quis para si e tudo fez tentando conseguir! Ainda não conseguiu e dependendo da Curadoria não conseguirá. Não será fácil, a CEPLAC aliada a outros que representam o estado tem 57% dos votos (dados coletados em estudo do MAPA); a C.N.A. só passou a efetivamente participar nas duas últimas reuniões; o sindicato rural de Ilhéus está presente, pode ser aliado; O I.P.C. vai comigo e vocês vão junto… é tudo que temos. Mesmo contando com os representantes da indústria (a indústria quer matéria prima, não acredito que sejam contra ao projeto da Curadoria), que tem suas demandas próprias, continuamos em minoria. Ainda usando dados do MAPA, a transparência “não apresenta boa comunicação de divulgação dos dados gerados e das decisões tomadas… … já as responsabilidades não estão bem definidas, apesar dos atores terem bom entendimento dos objetivos da câmara.” Olha só onde e como estamos; no mato sem cachorro!
Levei o recado e este é o atual estágio das coisas. A CEPLAC continua usando seu peso contra os cacauicultores, lá não existe projeto nenhum. O palestrante que fez a abertura da reunião, representando o MAPA, disse abertamente que não existem projetos para melhorar a cacauicultura; completou: “Tragam projetos. Bons projetos. O MAPA acolherá”. O projeto da Curadoria é completo, tem idéias e tem a fonte de financiamento. Em pouco tempo a cacauicultura pode mudar para muito melhor. A regra manda que a câmara setorial mande para o MAPA os projetos; mandará?
O trato e o gerenciamento do imenso patrimônio da CEPLAC depende de muitas abstrações, muita inovação. Precisava achar palavras, já escritas, dos outros, para eu não precisar provar nada, e achei num trabalho do MAPA de Bernard Pecqueur: “Trata-se da natureza oculta do recurso. Normalmente, isso não é o que parece obvio que é o recurso certo.” Adiante: “O recurso não se explora, é ativado… não é esgotável, porque não preexiste os processos que permitem sua ativação. Não é esgotável porque é renovado usando-o.”
Caros cacauicultores, não tem mais volta. A questão é se e o quanto desse patrimônio efetivamente beneficiará a cacauicultura.
Cordiais saudações,
Coronel Xela.