Caros leitores,
É difícil compreender, eu sei disso. Beira o impossível acreditar em tamanha insanidade e contando parece coisa de filme mal assombrado, entretanto, pasmem, tudo foi documentado; aconteceu. Estou me referindo às atas da câmara setorial do cacau (disponíveis no site do MAPA), elas contam muito. A vigésima nona reunião da câmara aconteceu no dia 13 de fevereiro de 2014, quando o diretor do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) disse: “que o Banco do Brasil, em face de episódios do passado, não tem apoiado como deveria o setor do cacau, mas que se deve insistir e levar o problema as instancias superiores do banco”; simples assim! Sendo simples então, qual o motivo de nada andar certo e da insensibilidade do banco em resolver a questão das dívidas dos cacauicultores? O enredo é de filme mal assombrado.
Alguém aqui está cansado de falar em dívidas? Fiz esta pergunta (segunda feira passada) numa reunião de cacauicultores em Itabuna, a resposta foi unanime: não! Bem… Olha, assunta bem, se o cacauicultor não cansa de falar e lutar para conseguir resolver as dívidas, como é que esse pleito não chega ao seu destino final? Se o cacauicultor fala, pede, deseja, e, no entanto, o banco não ouve, a ministra não ouve, o presidente não ouve, – com certeza não existe outra possibilidade- o problema está no meio do caminho o recado não é dado. Caros, infelizmente a representação empresarial se deformou, e não só na agricultura; a interlocução se burocratizou, o peso do estado levou as representações empresariais à segregação dos microtemas. A enorme complexidade do plantar e colher deixou-se de lado, é pensado somente o tema específico deste ou daquele fazendeiro, chegando ao ápice de separar-nos em guetos de pequenos, médios e grandes fazendeiros (cada um com seus privilégios).
O legista é o maior aliado do psiquiatra forense, trabalhando juntos, afinados, desvendam qualquer crime. Quando não há corpo o risco de entrar numa vereda errada é enorme. O caso do goleiro Bruno foi um desses, parecia complexo, faltava o corpo; acabou lendário na psiquiatria forense pela banalidade, Bruno matou a namorada para ficar quite com os amigos (os amigos usaram preservativos e ele não). O escritor inglês William Golding (ganhou o prêmio Nobel em 1983) em seu livro “O senhor das moscas” faz um belo passeio, retratado em crianças, pelos desvãos da inclusão/aceitação entre amigos e as terríveis consequências. O conhecidíssimo livro “As crônicas de Nárnia” foi escrito por C.S. Lewis assim como o fenomenal “Cartas de um diabo a seu aprendiz” que diz em sua última frase “A fina flor da profanação só pode crescer se for plantada perto do sagrado. Em nenhum lugar a nossa tentação é tão bem sucedida quanto nos próprios pés do altar”.
Há muito tempo nada é dito sobre as dívidas, nem a CEPLAC, nem a FAEB, nem o MAPA, nem a câmara setorial do cacau; todos cansaram de falar, de pedir. Cansaram, mas não largam o osso!! Não é difícil mostrar a profanação, mostrar exatamente onde o diálogo é interrompido, vamos passear na ata da quadragésima segunda reunião, acontecida no auditório Hélio Reis, no CEPEC em 27 de março de 2018. Eu estava presente, também muitos cacauicultores lá estavam. Muitos falaram, discursaram; o presidente concedeu o direito de o cacauicultor discursar, deu voz, até mesmo teve pequenos embates; tudo na normalidade de uma reunião e… Por um ouvido entrou pelo outro saiu! Tudo baboseira, nenhuma importância. Nada, nadica de nada foi escrito na ata, nem uma palavra, nem o nome do orador, quiçá uma frase; sumiu, suverteu, abduziu. Tudo o que foi dito pelo cacauicultor ganhou a assinatura de “resumir a ata”; simples, as coisas sem importância são retiradas. Caros cacauicultores, notaram onde o assunto é desvirtuado? O assunto nasce entre nós é debatido, sintetizado, exposto e, jogado fora! Aqueles que teoricamente levariam as demandas até os escalões superiores, não levam! Desleixadamente matam o assunto, deixam o cacauicultor conversando sozinhos; são dois mundos paralelos, o mundo real vivido por nós e o mundo surreal vivido pelos ditos líderes que de concreto só produzem sacanagens. Além de sacanagens, a profanação do altar sagrado da cacauicultura também produz coisas interessantíssimas que o nosso passeio pela ata (a ata é pública e está disponível no site do MAPA) revela, e, lendo, vejo no item 1 a fala do então diretor geral da CEPLAC “as novas atribuições tanto da CEPLAC quanto da câmara que passam a incluir os sistemas agroflorestais”. Como assim!? A proposta de alteração da denominação da câmara só será submetida ao plenário quando for discutido o item 3 da pauta e no entanto o diretor da CEPLAC, ainda no item 1 da pauta, já faz uma afirmação!! No mínimo do mínimo a coisa já induz ao conceito da pouca ou nenhuma relevância da opinião do cacauicultor nos assuntos da cacauicultura, claro, visto pela ótica dos dirigentes e ditos líderes.
Não há muito que fazer, trata-se de sabotagem. Em entrevista a revista Veja, o presidente Bolsonaro fala do aparelhamento nos ministérios e, os cacauicultores sabem muito bem o significado e as consequências deste aparelhamento, com efeito, ou os cacauicultores rompem essa barreira ou a solução nunca acontecerá. A sabotagem acontece até na conversa, o que os cacauicultores conversam é diferente do que os sabotadores conversam. O recado não é dado! São profanadores e ninguém muda da noite para o dia. O Conselho Nacional dos Produtores de Cacau sucumbiu assim, ouvindo palavras que não se encaixavam com os atos; diziam que dariam comida, tomaram o bico.
Cordiais saudações,
Coronel xela.