Caros leitores,
Algum tempo atrás eu estava restaurando um automóvel antigo –um charmoso Gurgel BR 800- quando, fui informado de um inusitado defeito. Era o quarto eletricista a tentar consertar; recebido o diagnóstico é claro que achei estranho, duvidei até, afinal era “fio entupido”! Saí da oficina calado e fui me aconselhar com outros eletricistas, lá ele, tem coisa neste mundo, viu. E existe! Acontece quando o fio é amassado por uma dobra mal feita ou pelo peso de algo, a capa continua inteira, porém alguns fiapos de cobre rompem-se, daí a quantidade de energia que passa é insuficiente. Uma aleivosia!
Em nós humanos, esse entupimento existe quando as palavras não encaixam com os atos, ou seja, o dito não acontece. O maior exemplo é a ex-presidente dona dilma. Para os cacauicultores o exemplo visto e ainda vivo é o do Conselho Nacional dos Produtores de Cacau –CNPC; sua história é de terror e eu vi acontecendo. Primeiro o presidente perdeu o gosto de conversar com os cacauicultores, com os conselheiros, com os presidentes de sindicatos rurais; fechou-se num mundo imaginário, só seu, belo, onisciente e onipresente. Qualquer conversa sobre o cacau lhe causava grandíssimo tédio; em contraponto a palavra reestruturação fazia seus olhos brilharem. A figura do cacauicultor com um bloco de papel cheio de anotações foi substituída pela figura do entertelado mal enjembrado no seu primeiro paletó, com um laptop. Quando o presidente era perguntado sobre de quem se tratava, os superlativos abundavam; quem tinha menos, era pós doutor –eu a pensar: “estamos lascados pós doutor só existe no Brasil, ademais que inferno um doutor morto pode fazer?”. Todos, funcionários de ONGs, falsamente usando a palavra reestruturação; o CNPC estava ferido de morte. Nas intricadas conversas –muitas vezes em línguas desconhecidas por mim- o cacau era desprezado, o interessante era uma nova ordem tendo a deusa natureza (nascimento de uma religião pagã) como centro de tudo. Quanto ao cacau, pobre cacau, teria de encaixar-se na condição de dádiva divina; a deusa natureza permitindo, o cacau será colhido. Com efeito, a palavra reestruturação perdia o sentido original, ganhando o sentido de nova ordem.
Há preço para tudo até para manter-se vivo; o preço para o CNPC ganhar a dádiva da deusa natureza seria sua desgraça: a mudança de seu estatuto (veja! Quanta semelhança com a reestruturação da CEPLAC), o que de fato aconteceu. A aprovação do projeto de revitalização dum rio foi à contrapartida; pronto, o CNPC tinha virado uma ONG. Para quê conversar com cacauicultores se estes só traziam problemas? Para quê conversar com presidentes de sindicatos rurais se estes não traziam soluções? Ademais o presidente não mais estava submisso e dependente dos eleitores, agora, era rei, tudo sabia e tudo podia, podendo impor a solução que mais lhe conviesse; que tinha nome e respondia por “cacau cabruca”. Sim, qualquer cacauicultor podia continuar visitando e levando suas demandas ao CNPC, não foi proibido isso, o problema era que qualquer demanda obrigatoriamente tinha de encaixar-se na doutrina do “cacau cabruca” e não se fala mais nisso! O rei assumiu-se como soberano e absolutista; sendo o dono da verdade e assessorado pelos estranhos das ONGs, desprezou o cacauicultor, matou a política patronal dos cacauicultores, calou a voz da região cacaueira e, sem saber, cavou sua sepultura. Os cacauicultores não participaram deste processo destrutivo, não existiu interlocução ou debates. Sozinho o CNPC transmutou-se dum ente público com fins comuns aos cacauicultores, para um ente privado. A desgraça estava próxima.
Não só a representação da cacauicultura estava naquele prédio, à história da civilização do cacau também ali estava; e… Tudo foi destruído. O erro aconteceu na reestruturação; e então, como um ente privado ocupa um prédio público sem autorização ou protegido por algum contrato? Morreu bucha de sena.
Quer saber sobre o projeto de reestruturação e suas consequências -que está sendo gestado-, sobre a CEPLAC? Não é difícil, onde se lê CNPC leia CEPLAC! Tudinho igual.
Não houve divulgação, não houve participação, não houve debates. Pedi insistentemente a divulgação para apreciação dos cacauicultores e nada! Tudo escondido. Numa atitude para lá de temerosa o presidente da câmara setorial do cacau, usando de suas atribuições legais, retirou o assunto de pauta e jogou para o limbo; prefere botar em pauta um assunto controverso: a escravidão na cacauicultura brasileira. Pode! Velho, é demais! Ouvir a palestrante chamar o cacauicultor de escravocrata e comparar a situação do Brasil com a africana, afirmando que é a mesma coisa. Acredite se quiser isso é “fio entupido”. É sabotagem. Quando se tenta trazer o assunto para ser discutido junto com o cacauicultor, se joga uma tolha por sobre ele ou, com um assunto de forte apelo (ex. escravidão), tenta-se desviar as atenções.
São manobras ruins para a coletividade, todos perdem. Uma reflexão sobre o destino do CNPC faz muito bem, passado o tempo nota-se que mesmo os condutores do processo destrutivo também foram destruídos. Assim aconteceu também na revolução francesa, primeiro foi o rei e a rainha, depois, subiu a guilhotina para Robespierre, Dumas e muitos outros; enfim a criatura engoliu o criador.
Cordiais saudações,
Coronel Xela.