Caros leitores,
Houve um tempo, tempo bom, que existiam grandes homens; homens bons. Quando das labutas por eu empreendidas para fundar o sindicato rural de Santa Luzia, em 1987/1988, conheci e fiz amizade com Antônio Manoel e dele ouvi esse relato: chegamos em Canavieiras nove horas; fomos implantar o escritório local da CEPLAC, fazer tudo, deixar pronto. Fomos para passar uma semana e instruídos a procurar Carlos Terra, ele ajudaria. Rapaz! Quatro horas da tarde estava tudo pronto! Até os papéis cartoriais estavam prontos! Foi um tempo de homens virtuosos e de incrível capacidade de trabalho; as virtudes, os trabalhos, frutificaram enormemente criando o colosso CEPLAC e consolidando a civilização do cacau. Cacauicultores e CEPLAC formaram uma virtuosa simbiose. Não vivi esse tempo, não sonhei com esse tempo; ouvi falar e bem falar e para provar as obras estão no lugar.
Nos psicodélicos anos 1970, talvez embalados pelo psicodelismo as virtudes amainaram; os grandes homens – e isso é normal- com o corpo satisfeito e embevecido deram-se mais aos prazeres ou, dedicaram-se demais ao trabalho no intuito de acumular riquezas esquecendo-se da eterna vigilância para com as virtudes. Neste caldo cultural psicodeliano um expoente máximo sonhou com um dia a terra parar, quanta loucura! Era Raul Seixas, e, claro, ninguém sabia, o maluco era profeta e sua profecia aconteceria. Para as crianças setentianas e neste contexto eu estava, viver era sonhar e como tínhamos motivos para sonhar! Não tinha limites! Sonhos reais! Naquele tempo chegou junto com o jornal (Jornal Tabu. Circulou em Canavieiras até 2018) algumas pílulas de café; a matéria falava (eu ainda não sabia ler) sobre as viagens a lua, as pílulas eram o café dos astronautas. Quase dei um nó na cabeça, e naquela noite adormeci tentando solucionar o intransponível problema de como dissolver a pílula no espaço. Outra vez, agora eu já sabia ler, li no Jornal Tabu sobre uma terrível doença que dizimava os cacauais, a vassoura-de-bruxa. Fiquei assustado. Infantilmente assustado. Psicodelicamente Raulzito compôs “Maluco Beleza”, o cara era um gênio, e botou todo mundo mais relaxado no trato com as virtudes; logo, logo as magníficas discotecas apareceriam, quem imaginava! O lendário ano de 1977 chegava e os bons homens trabalhavam como nunca, as fazendas progrediam, a produção aumentava, a tecnologia então existente usada na lavoura chegou ao ápice; a pujança era vista e sentida em todos os níveis da sociedade. Lá do céu o Frei capuchinho Ludovico Liorne (ver nota ao final) sorriu; gostou do que viu, sua obra estava bem feita e vendo um menino contando um caso, na praça da igreja, o abençoou; e riu, este vai ser escritor!
A confraria da desgraça estava em gestação, do seio da CEPLAC o cramunhão nasceria. E não tardou! Foi uma flexibilização aqui, um passar a mão na cabeça ali, um deixa pra lá acolá, e o primeiro golpe veio, a desgraçada confraria do bar caçuá se elegeu presidente da associação dos agrônomos da CEPLAC. Logo a noite escura da desgraça encobriria a cacauicultura, aconteceu o crime da vassoura-de-bruxa; os piores venceram não por mérito, mas por falta de vigilância das virtudes por parte dos bons. Mais de trinta anos duraria essa escuridão, nenhuma solução, nenhuma ideia, nenhuma fresta de luz. Os escritórios da CEPLAC viraram comitês políticos partidários; os carros escancaradamente foram usados na política partidária; ceplaqueanos deixaram de serem servidores públicos e viraram políticos, elegiam-se vereadores, prefeitos e ocupavam cargos de relevância política na administração pública; a pesquisa, antes tão inovadora, a ideologia partidária a reduziu ao fracassado plano do PRLC; o magnífico orquidário no CEPEC desapareceu sem deixar vestígios; as trevas elevou o corporativismo ceplaqueano ao seu grau máximo. Quanto ao cacauicultor, seu novo papel nesta nova política implantada na CEPLAC, era virar massa de manobra ou ser destruído. E esse foi um tempo, um tempo ruim; um tempo de homens pequenos conhecidos como “os coisa”.
Caros, tudo é história. A história boa ou ruim ninguém apaga, o passado existe. Ou como cunhou o impagável Millôr Fernandes: você pode renegar seus descendentes, seus ascendentes nunca! Bem, daí, o tempo senhor de tudo passou, chegou à pandemia e provou a teoria “Raulziana” de que sim, é possível parar a terra! Nada como o tempo! Que mostrou os erros dos mais de trinta anos de erros na CEPLAC; tantos erros que até a tecnologia ficou pra trás, materializada na péssima internet oferecida no CEPEC; nos erros conceituais da péssima pesquisa onde mais se prega o assombro e menos as virtudes; nos erros estruturais com o mato crescendo na porta de entrada; nos erros ideológicos com a insistência em projetos que perderam a razão de ser, a exemplo da extensão rural; no erro corporativista de querer manter os privilégios; e no erro de querer e dizer que são esses errados os salvadores da CEPLAC. Não são! Aliás, são os únicos interessados em acabar a CEPLAC.
A saída da CEPLAC está num sonho, o sonho da simbiose entre o cacauicultor e a CEPLAC; o sonho das virtudes. Modernamente esse sonho é fantástico, e, relaxe, abra seu coração é a CEPLAC 5G… que sonho! Esqueça tudo, os mais de trinta anos de trevas já era! Vamos, embarque, experimente, o que você quer? Tudo, tudinho 5G. Você quer um SAC (serviço de atendimento ao cacauicultor) CEPLAC? Terá! Onde você estiver, qualquer hora, qualquer assunto, teve dúvida? Simples, com um toque acesse SAC CEPLAC. Quer acessar uma pesquisa e saber seu atual estágio? CEPLAC Tecnologia, entrou, acessou, viu. Qual o melhor clone para tal regime de chuvas? CEPLAC Biotecnologia basta um clique e tudo estará lá. Preciso fazer uma análise de solo, e agora? CEPLAC Assistência, tudo se resolve num clique. E se chover demais ou de menos como faço para prever minha safra? CEPLAC Estatísticas, todas as estatísticas estarão lá. Mas quem me ensinará a podar o cacaueiro? CEPLAC Vídeos, lives com todos os assuntos ligados a cacauicultura. E o financiamento bancário? CEPLAC Descomplica, ajudará você a descomplicar o seu financiamento e ainda fará o projeto. Ainda acha pouco, então filme sua lavoura e mande para o CEPLAC Global; você receberá um pacote de sugestões para melhorar a produtividade. Quer mais ainda? É fácil mande sua sugestão ou pedido para o SAC CEPLAC.
Aceite a CEPLAC 5 G é o futuro que chegou. Abra seu coração, deixe a CEPLAC 5 G entrar. Um mundo se abrirá, as lavouras de cacau nunca mais serão as mesmas; acredite! Ou como os soteropolitanos dizem: quem tem fé vai a pé! Ahhh! E tem a CEPLAC Biblioteca, a CEPLAC Tempo, a CEPLAC Pinacoteca, CEPLAC História, e etc, etc… Tudo num clique, tudo facilzinho e até eu, um coronel, melhor, o último coronel vivo, aprenderei a lidar num clique!
Fim.
NOTA: Frei Ludovico de Liorne era natural da cidade italiana de Livorno, cuja padroeira é Santa Júlia de Cartago. Completou seus estudos no convento dos capuchinhos, na capital baiana. Além de teólogo era mestre em agricultura. Fundou a vila de ferradas, onde, em 1818 tinha 6 a 8 palhoças de barro (pau a pique) e uma pequena igreja de igual construção. A população de maioria índios camacãs, somava uns 60 indivíduos. Por todos os elementos históricos, Frei Ludovico é o fundador da civilização grapiúna. A citação mais conhecida sobre o Frei está no livro de viagem dos alemães Spix e Martius.