Entrevistei Dra. Lucimara Chiari por e-mail, foram muitos e-mails. Bióloga doutora em genética e melhoramento, pesquisadora da EMBRAPA desde 2006, com experiência (seis anos) em gestão e inovação. Tendo assumido recentemente a coordenação-geral de pesquisa e inovação de CEPLAC, em seu discurso de posse disse: “Aceitei o desafio por acreditar que posso contribuir com a instituição, trazendo uma visão integrada da gestão de pesquisa com foco em resultados”. Agora vamos à entrevista!
Blog- O cacau é uma cultura rica em tudo, tão rica que deu origem a civilização do cacau. Europeus, asiáticos, povos do oriente médio, brasileiros de todos os lugares, todo mundo, todos reunidos no propósito de viver do cacau; e miscigenaram-se formando a civilização grapiúna. Seja bem vinda! Como se sente? Qual a expectativa?
Lucimara- Me sinto muito honrada em poder contribuir com a cadeia produtiva do cacau no Brasil por intermédio da Ceplac. A instituição agora vai estar ainda mais focada em pesquisa, visando o desenvolvimento de ativos tecnológicos inovadores que atendam as reais necessidades da cadeia produtiva. Hoje, o Brasil vive uma fase de recuperação rumo à autossuficiência na produção de cacau. Esperamos contribuir para essa recuperação, tendo a ciência como sua base e, neste contexto, o protagonismo da Ceplac pode e vai fazer a diferença.
Blog- A cadeia do cacau é enorme movimenta muita riqueza. Como você contextualiza a pesquisa/inovação dentro dessa cadeia?
Lucimara- O Brasil se destaca por ser o único país no mundo a ocupar todas as etapas da cadeia produtiva, pois além dos agricultores, temos ainda os responsáveis pela moagem dos frutos, industrialização e comercialização dos derivados. Acrescentaria também a indústria de insumos. Há espaço para contribuir com pesquisa e inovação em todos esses segmentos.
Blog- Mas o cacauicultor, por ser o único cliente comprador de pesquisas/tecnologias, torna-se o elo mais importante; é quem bota no campo e na prática.
Lucimara- O cacauicultor não é o nosso único público, como mencionado anteriormente. Há espaço para contribuirmos nos outros setores da cadeia. No entanto, de fato, ele é o foco principal e, concordamos, é quem “bota no campo e na prática”. Por isso, ele precisa ser ouvido.
Blog- Quantas estações experimentais da CEPLAC estão ativas e nesse contexto são quantos hectares de experimentos?
Lucimara- Estamos numa fase de restruturação. Serão mantidas todas que forem necessárias para o desenvolvimento de pesquisas para atender as principais regiões produtivas.
Blog- É uma pergunta bem técnica, de 2000 para agora os laboratórios evoluíram muito, aliás, tudo evoluiu, foi uma coisa que sentimos no dia a dia essa evolução; como estão os laboratórios do CEPEC?
Lucimara- Estou chegando agora e justamente levantando quais são as demandas para a modernização dos nossos laboratórios. O laboratório de análise de solos, por exemplo, que foi desativado na gestão anterior do CEPEC, será reativado. Nosso diretor nos pediu prioridade uma vez que este laboratório poderá atender demandas de análises de produtores de cacau.
Blog- A monília é a bola da vez, eu soube que a Costa Rica tem estudos muito bons sobre a monilíase do cacaueiro; o Equador também. É preocupante a situação? Venceremos a monília?
Lucimara- A Ceplac tem um programa preventivo para doenças do cacaueiro que inclui a moníliase e faz pesquisas colaborativas com instituições no Equador, Peru e Costa Rica, além dos parceiros nacionais. Estamos atentos a esta questão e já temos quarentenados cerca de 200 clones que serão testados nos países onde a monilíase já é endêmica para seleção de variedades resistentes. Este trabalho deverá levar cerca de quatro a cinco anos. Desenvolve-se também outras pesquisas, principalmente, com foco na epidemiologia e manejo da monilíase.
Blog- Na Bahia existem clones com mais de 20 anos, bem mais; existe definição do tempo útil, economicamente viável, dos clones?
Lucimara- A vida útil econômica de uma plantação comercial de cacau está em torno de 40 anos, quando bem manejada.
Blog- Ainda na toada do economicamente viável, qual clone ou qual clone é mais promissor se ainda estiver em estudo, produz mais sementes com menor consumo de nutrientes?
Segundo o Boletim Técnico No 221 “MANUAL DO CACAUICULTOR: PERGUNTAS E RESPOSTAS” dos clones de cacaueiro atualmente disponíveis no mercado, podemos citar PH 16, CP 49, CCN 51, CCN 10, PS 13.19, SJ 02, BN 34, FA 13, Cepec: 2002, 2003, 2004, 2005. Em 2019, foram lançados os novos clones Cepec 2204 e Cepec 2176. A Ceplac continua com seu programa de melhoramento visando o lançamento de novos clones na Bahia e de híbridos nos estados do Pará e da Amazonas.
Blog- Steven Jobs, visitando a IBM viu o mouse e a tela sensível; a IBM inventou e não sabia dar aplicação útil. A sacada de Jobs foi inventar usos para tais tecnologias. Com a renovação do quadro de pesquisadores da CEPLAC é muito provável que isso aconteça; o resultado pode vir rápido. É complicado perguntar mas, você está preparada para lidar com isso?
Lucimara- Sim, me considero preparada. Já vivenciei isso na Embrapa Gado de Corte no período em que estive na Chefia de Pesquisa e Desenvolvimento. Algumas vezes grandes ideias vêm de achados científicos anteriores, foi o que ocorreu com o conceito Carne Carbono Neutro, por exemplo, e eu estava perto para apoiar os pesquisadores e buscar parceiros.
Blog- A região cacaueira da Bahia é muito rica em orquídeas, você gosta de orquídeas?
Lucimara- Sempre gostei dessas flores, desde as minis até as mais exuberantes. Vai ser um prazer enorme conviver tão próximo a elas.
Blog- Muito obrigado pela entrevista. Os ávidos leitores cacauicultores também agradecerão; espero, em breve, poder fazer uma nova entrevista e sempre que possível divulgar notícias dos êxitos da pesquisa. Conte com o blogdocoronelxela.com.br