Batel, batelão, batelada…

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Foto by Rose. O português além de culto é agradável aos ouvidos, é possível brincar com sua sonoridade "vou-me já" ou "boca dela" ou "por ti gela"; é tudo cacofonia e eu gosto de brincar com isso. Também posso esmiuçar o pensamento um pouco, um pouquinho, um tiquinho, até uma pitada. E por tudo isso traduzir o português é muito difícil. // Alex.//

            Como escritor!? Mas, como escritor!? Mas… como escritor!? Escrever na língua portuguesa é muito bom, é uma delícia; a língua ajuda e tudo é possível. É possível escrever qualquer cena e até com poucas palavras, aliás, até sem palavras como fez Machado de Assis (O velho diálogo de Adão e Eva) que usou somente o ponto de exclamação (!) e o ponto de interrogação (?) e escreveu assim um capítulo. Para mim não falta inspiração e a verve ferve; claro que eu queria conhecer o português tanto quanto Machado de Assis conheceu; como eu queria. E essa foi minha maior e última dificuldade que tive de superar para ser escritor: como lidar com o português. Daí matriculei-me num curso de português e foi uma decepção total, o professor só ensinava macetes para passar em concurso. Joguei as vergonhas às favas e embocetado1 resolvi escrever do jeito que via a vida; o resultado achei assustador, tudo era muito fantasioso, desconexo… mas não era! É a LITERATURA FANTÁSTICA, a mesma linguagem usada por J.R.R. Tolkien (O Senhor dos Anéis).

            Livre das amarras pude dar asas a minha fervilhante verve e encarar a língua pelo lado que me é favorável, o lado em que só quem fala e pensa em português entende. Só existe a língua portuguesa, que para ser entendida, o peão tem de pensar (entre os falantes desta língua isso é automático), além de ser completa e poder ter palavras adjetivadas. Batel é um barquinho de embarque e desembarque; batelão é um batel grande; e comprar de batelada2 o que vem a ser? É de rir e de dar nó no pensamento! Como pretendente a escritor eu há muito sabia da riqueza da língua, e brincava com as interpretações: Zé carroceiro ou Zeca roceiro; mas a certeza eu só tive quando comecei a ler o cardeal Joseph Ratzinger, depois papa Bento XVI. Não lembro em que livro dele li, mas Ratzinger afirma que só compreendeu a bíblia depois de aprender a pensar em latim; ora o português é muitíssimo mais completo que o latim! E então noutro livro de Bento XVI, há a afirmação de que filosoficamente a bíblia é correta; que Jesus existiu; que toda história contada é coerente e verdadeira, MAS, que ele (Bento XVI) não conseguia “vêr” DEUS… termina afirmando que para isso é preciso ter um DOM. Bento XVI me deu a certeza para eu encarnar o escritor, eu tenho o dom de criar e contar apesar de meu português mediano. Outro que cita o português como uma língua cultíssima, apropriada a expressão do pensamento é Ludwig Wittgenstein (filósofo que desvendou a formação da palavra na mente). Daí, decidi que os erros gramaticais e minha limitação de vocabulário não seria empecilho, embocetaria1 tudo e levaria no lero bem contado.

            O brado retumbante de um povo heroico, todos ouviram, as margens plácidas do {riacho} Ipiranga. Olha do que a língua portuguesa é capaz, os poetas do passado gostavam de inverter a métrica e assim todos conhecem: Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heroico o brado retumbante (complicado mesmo!). Mais complexa ainda é a palavrinha “saudade”; velho! Saudade só existe no português; dificílima de usar, contextuar, metrificar. Saudade não é falta; sua significação não remete a materialidade, também não remete a coisas vividas ou ao passado, pois assim volta para a materialidade! A significação de saudade trabalha nas cognições no tempo verbal do futuro do pretérito, que também só existe no português! A saudade exprime o que “poderia” ser feito junto com seu, ou meu consorte. Tipo: caso meu filho (Ou marido, ou amigo, ou etc…) não tivesse partido para as Índias, hoje leríamos este ensaio. Que saudade! Ou: se meu filho tivesse vivo, ele sabia ler, leria este ensaio e eu ouviria. Quanta saudade!!!  E da janela alguma vivida velha portuguesa respondeu: fulano! Fulano embocetou-se1 no mundo, e nem saudades deixou.

            Oh! Rebuceteio3 da bexiga. Já sem um olho e com um ano de cadeia no currículo o poeta português partiu para escrever sua obra prima, em 1553 chega em Goa e guerreia como soldado do reino; depois nova batalha em Málaca; e neste turbilhão de vida vai escrevendo seus poemas históricos; nova batalha em Timor Leste; e mais novos poemas históricos escritos no balançar da Nau guerreira; nova batalha no estreito de Meca; outra no golfo pérsico; mais uma guerra na China, servindo de tira-gosto; e lá vai mais poemas históricos escritos no balançar da Nau; conquistou o cargo de provedor-mor dos defuntos, em Macau. Neste cargo e a serviço teve de viajar a Goa, quando passava na foz do rio Mekong o diabo tentou tomar-lhe sua obra-prima, veja que rebuceteio3, fazendo a Nau naufragar. Luiz de Camões se salvou e salvou sua obra! E vocês como contariam tal embocetada1 passagem num livro? Lembrariam os detalhes? Teriam coragem? Pois Luiz de Camões divinamente conta essa passagem na estrofe 128 do canto X, ainda faz uma belíssima homenagem à memória de Dinamene, sua amada mulher que o diabo conseguiu matar. Finalmente publicou, em Portugal, seu livro em 1572… para mim não publicou! Publicar é uma palavra fraca, não condiz com a grandiosidade da obra-prima. Eu digo que Luiz de Camões nos concedeu a graça de poder ler, lendo, sentindo, tendo a graça de absorver cada palavra. É divino. É a língua portuguesa no ápice!

            Os lusíadas. Sim, os lusíadas; que considero, e é, a bíblia da literatura! Que muito nos ensina em história, leis, a passagem da filosofia antiga para a moderna, física, astrofísica, geografia e etc… Mas sobretudo nos mostra a riqueza da língua portuguesa, do quanto temos de pensar (imaginar) para extrair todo o potencial possível da palavra. Em que outra língua é possível exprimir isto, note: vou pular o carnaval. Ou: vou pular carnaval. Quer um pouquinho mais complicado: vou dar esmola. Ou: vou dar a esmola. (o a induz para que a esmola esteja guardada; ou que não seja minha alguém me deu para eu dar). E assim viajamos na magnífica língua portuguesa, tão complexa, tão bela, tão culta; e se embocetei1 mais ainda seu pensamento, fazer o quê! Ria!

                                    Fim.

                                            Alex Terra.           

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Respostas de 2

  1. KKKKKKKKKKKKKKKKK
    E o mais incrível é que utilizo uma letra do vocabulário inglês para produzir uma onomatopeia de risada
    kkkkkkkkkkk

  2. Parabéns , utilizo muito , embucetado no sentido de rápido , texto conseguiu prender minha atenção, e leve para ler

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