Caros leitores,
Naquela véspera do feriado de Corpus Christi (24/05) daquele ano de 1989, chegamos um a um e cada qual em seu tempo, no horário combinado para o happy hour no restaurante do alto de Ondina, uma vista para o mar fantástica e um pôr do sol deslumbrante; bebericamos, brindamos à vida e comemos pititinga (sequinha e crocante). Éramos um grupelho na idade de tomar decisões e decidir o rumo da vida e disso conversávamos. Uns terminando os estudos outros já formados e, os concursos públicos tinham entrado na moda; o estado acenava com seus encantos! O crooner cantava o samba enredo da imperatriz Leopoldinense ¨liberdade, liberdade abre as asas sobre nós” quando chegou o último convidado; era 18 hs, chegou saudando todos com um sonoro “estamos fudidos” e fazendo o característico “top,top,top” com as mãos, repetia: “todo mundo fudido”. Enfim sentenciou: estava na sede do PTB, conversei muito, não tem um político para ajudar o cacau! Era um cacauicultor de uns 45 anos e político experiente, fez questão de mostrar o dedo indicador apontado pra cima a cada um, seu semblante estava contraído “um só político não tem; acabou!”. Top,top,top!
Um atentado terrorista depois de executado não tem como escolher as vítimas ou prever as consequências, com efeito, a covardia, a vergonha, o execramento pela humanidade é consequência disso; as crianças, os velhos, os fracos, os pobres de espírito, os doentes, são quem mais padecerá. A extensão da onda de choque depende da sociedade vivente no local e dos políticos! O inovador e inédito atentado terrorista biológico da vassoura-de-bruxa teve um baixo impacto, entretanto, das armas biológicas é impossível defender-se. Não há bunker seguro e até os soldados que porventura combatam são covardemente contaminados. Neste tempo eu tinha acabado de ler (olha que coincidência!) um livreto escrito pelo líder da TFP1 Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, em que discernia sobre guerra biológica. Os ânimos estavam exaltados, resolvi baixar a temperatura da discussão argumentando que a podridão parda também não existia, e que foi controlada com uso intenso de tecnologia. O Velhão (no grupo ter 45 anos era velhão) da mesa após sugar até a última gota sua caipirosca gritou: “como! Não temos políticos!”
O governador da Bahia naquele 1989 dispensa apresentação, era Waldir Pires e o seu nojento discurso de perseguido político pela “dita-dura”; carta fora do baralho conivente com o acontecido, deve ter brindado comemorando a vassura-de-bruxa. O secretário de agricultura era Reinaldo Braga e consta na página da SEAGRI seu feito, a Bahia foi o estado que mais assentou pseudos sem terra. Não quis sequer ouvir falar em vassoura-de-bruxa, no mínimo por omissão é participe; inclusive o Instituto de Cacau da Bahia era subordinado a ele! Teve a oportunidade de escrever seu nome na história como herói, preferiu botar sua foto na galeria dos medíocres. No olho do furacão eram prefeitos João Lyrio em Ilhéus e Fernando Gomes em Itabuna, em comum tinham o partido ambos eram do PMDB… Fernando Gomes estava na melhor fase de sua vida política, mas era pobre de espírito o que leva incondicionalmente à mediocridade; nada fizeram, nada pensaram, nada contribuíram; nenhum dos dois. Pois é né e miséria pouca é tiquinho, jamais o acontecido aconteceria se tudo não tivesse a conivência de muitos, qualquer crime leva qualquer cidadão pra cadeia, imagine um crime terrorista! É preciso muita certeza de que nenhuma punição aconteceria e do ambiente estar propício. Neste contexto daquele 1989 os deputados federais estavam em transe, Brasília era o paraíso e tinha o “clube do poire” no restaurante Piantella (jantei lá em 2019 e senti o clima), onde governo e oposição sentavam-se na mesma mesa e acontecia sempre da oposição botar os despreparados governistas no bolso. Ademais os deputados estavam refestelando-se nas gorduras das boiadas leiloadas nos leilões da União Democrática Ruralista –UDR- onde fazendeiros arrematavam lotes pelo triplo do preço e ré-doavam para a UDR. A constituição foi promulgada em outubro de 1988, estava novinha, o assunto estava quente e todo deputado constituinte era um semi-deus; era fato, em nenhum lugar chegava um deputado federal, chegava um constituinte… daí, com a cabeça no céu (da boca da onça) onde um semi-deus, digo, deputado federal ia sequer querer ouvir falar de pôrra de vassoura-de-bruxa! Eles estavam curtindo as delícias só reservadas aos deuses… e juntinhos, todos foram para a mediocridade.
Hoje eu entendo o desalento de Velhão com a situação, a história tinha tudo para ser diferente. Nos estados e por consequência na Bahia, os deputados estaduais estavam fazendo a constituição estadual que seria promulgada em 05 de outubro de 1989. Eu creio que tão bizarra situação só pode ser compreendida pela ótica da ação de satanás; mas assunta, repara bem, espia pela greta, tinha deputados cacauicultores! Nenhum quis ser herói! O momento era aquele, tinha como, até mesmo revitalizar o Instituto de Cacau destinando um percentual das rendas estaduais para este fim; ou criar um fundo lastreado na retenção de parte do ICMS do cacau. Fato era que tudo era possível já que a assembleia constituinte estava em ação, entretanto e entre tanto todos estavam num tipo de transe político. Todos, sem perdão ou exceção, escolheram livremente o caminho rumo à mediocridade.
Velhão era bom vivant, quando percebemos, estava no salão dançando com uma nova namorada. A COVID 19 o levou e lá no céu, certamente ainda repete: um só político não tem; acabou! Top,top,top. Deixou uma reboleira de fazendas, uma bela história de vida, muita alegria, incontáveis viúvas, e a melhor definição daquele momento daquele 1989: os primeiros atingidos pelos terroristas da vassoura-de-bruxa foram os políticos, todos uns pobres medíocres.
1- Sociedade Brasileira em Defesa da Tradição, Família e Propriedade -TFP. Hoje chama-se Instituto Plínio Corrêa de Oliveira.
Coronel Xela.
Respostas de 8
Parabéns Alex Terra!!!
Matéria excelente sobre um tema de grande valor histórico. Realmente somos uma sociedade “excessivamente tolerante”!!….
Esse descaso do governo não foi só com a cacauicultura, existe também em outras atividades da economia. Infelizmente na época não estava em voga, o politicamente correto. Se fosse nos dias de hoje, com as redes sociais, e com a narrativa de preservar a mata atlântica, talvez conseguíssemos uma maior conscientização e engajamento da sociedade, sobre o que a ruína da lavoura causaria para o meio ambiente.
Crônica cheia de verdades
Parabéns Alex Terra pela excelente matéria fidedigna e autêntica
Espirituoso, sarcástico….o Coronel Xela escreve bem demais .
Espirituoso, sarcástico…o bom amigo Coronel Xela se supera a cada artigo.
Parabéns, Coronel!
Excelente!