Caros leitores,
R E S P E I T Á V E L P Ú B L I C O!!! e bummm as imagens de uma terra arrasada encheram todas as televisões de todos os cacauicultores. Um êxtase coletivo colou os olhos na tela, uns atônitos, outros congelados, muitos embasbacados, pouquíssimos aliviados e menos ainda foram os que tomaram um gole de conhaque para trazer a alma de volta; sim, não bastou botar a vassoura-de-bruxa era preciso chocar… tocar o terror. O polichinelo travestido de repórter, impecável, de camisa e alma vermelha, fazia malabarismos linguais para explicar que aquela era a solução! A CEPLAC cortou e queimou toda a roça onde primeiro encontrou a pestilenta praga; nada restou; tudo feito sem dó, com sangue nos olhos e claro ódio revanchista. Eu assisti e não prestei atenção no teor da notícia, só via a formatação do modo e ao fim tive certeza de que a imprensa tinha abduzido, contribuiriam muito na desconstrução do cacauicultor. Desde 1987 a TV Cabrália (fundada por Luiz Viana Neto) e desde 1988 a TV Santa Cruz (fundada por ACM Júnior) transmitiam noticiários a partir de Itabuna, e fizeram de tudo, usando polichinelos, para degradar a cacauicultura.
É impossível saber como, ou quem permitiu, a imprensa chegar a esse ponto, mas é possível ver o caminho que levou até lá. Inaugurada em 1963 a mais potente rádio grapiúna, a Rádio Jornal de Itabuna, pegava em todo o sul baiano; só a história desta rádio dá um livro. Era uma boa programação, transmitia aos domingos futebol e principalmente seu locutor esportivo narrava torcendo pelo time do Itabuna; quem vivo era, lembra da vinheta chamativa (uma paródia da música de Jorge Bem) “praia e sol, itabunão futebol, domiiingo”. E assim era o domingo típico em qualquer fazenda cacaueira, era o momento de diversão ligar o rádio e ouvir o Flamengo jogar contra o Itabuna no Itabunão. Sim!! Isso aconteceu no início dos anos 1980! Outro bom programa era o “de fazenda em fazenda”, esse foi lendário! Em fazendas grandes ou quando havia sedes próximas, tendo vários rádios ligados, ouvia-se como um eco; caminhava-se muito e o som era o mesmo ora mais baixo ora mais alto. Começava na hora de acender o fogo para o café da manhã, e misturava o preço do cacau com o cheiro do café coando e da banana da terra cozida; do aroma das achas de vinhático queimando vinha as lembranças enquanto o locutor lia as notícias enviadas por carta de parentes que estão longe; no fruta-pão e no inhame estava a energia para cumprir a tarefa recomendada pela CEPLAC através do rádio; é tempo de colher cacau.
Neste tempo a Rádio Jornal de Itabuna é quase uma extensão da assessoria de imprensa da CEPLAC, o serviço de extensão rural antes feito presencialmente, agora é dada em pílulas de conhecimento via as mídias existentes; e então o tecido histórico-social começa a desgastar, a miséria e a desgraça começam a agir. Olhando superficialmente muito pouco é visto, ao levantar o pano, o inferno aparece! O locutor é o muito bom Odilon Pinto; irretocável. Nos seus muitos predicados é também ceplaqueano, e aí está o elo da CEPLAC com a rádio. A programação da rádio se confundia com a CEPLAC e vice-versa, era uma simbiose psicológica; tudo isso não seria ruim não fosse a história da vida de Odilon, que aos 18 anos já era militante da organização Ação Popular, e, chegando em Camacan militou junto aos trabalhadores rurais pela derrocada da cacauicultura e implantação do extrativismo. Como ninguém muda da água para o vinho, esta foi à ideologia que Odilon levou e propagou pela rádio Jornal; isto foi fato, é história e está disponível na internet pra qualquer um pesquisar. Legal!
A CEPLAC era onipresente também na imprensa e conta com uma magnífica estrutura física de assessoria de imprensa, próxima a portaria principal. Naquele tempo tinha três jornalistas profissionais e mais vários funcionários, que assim como Odilon eram ceplaqueanos e jornalistas em jornais, rádios, TVs, etc… enfim a mídia estava aparelhada. Tudo prontinho para tocar o terror, qualquer princípio de reação ao macabro plano seria inclementemente massacrado. Jornalistas outsiders onde procurariam notícia? Na CEPLAC! (risos) A verdade seria construída com narrativas criadas por polichinelos vermelhos; e que entrem os palhaços!!
Os cacauicultores estavam em transe com as fortes imagens da fazenda arrasada e queimada; aterrorizados. O que contarei agora não saiu em nenhuma mídia1 : muitos fazendeiros morreram por ver aquela cena. Imagine a psique de um vizinho da fazenda devastada pela CEPLAC, esperando sua vez chegar. Eu conversei com um cacauicultor de Camacan, que foi acusado (e massacrado) pela imprensa de esconder a vassoura-de-bruxa da sua fazenda (não levar a conhecimento da CEPLAC), e senti o seu dilema em profundidade (breve contarei este caso). Não! Não foram suicídios. Foram mortes que apareceram no atestado de óbito como males da pressão alta, AVC, infarto ou depressão aguda. Nada disso foi noticiado, e caso alguém comentasse a imprensa trataria como chilique de riquinho cacauicultor. Entretanto o circo dos horrores não termina aqui, tem muito mais e tem de tudo!
Coronel Xela.
1- O documentário “O Nó” produzido pelo Instituto Pensar Cacau, fala sobre a morte de cacauicultores.
Respostas de 6
Triste realidade….os fatos e a história estão aí;quem sabe num futuro ,se houver ,um bando de boas almas iluminadas venham a compreender o que os “canhotos de pensamento” tem prestado de mal a ruim ,ao futuro de uma nação e assim começar a plantar, novamente a semente da civilidade.
Lembro da programação da radio Jornal. O referido jornalista Odilon promovia o forro do Mata o Veio, no final de semana e cada cidade da região onde ele promovia uma festa. No final o Odilon conseguiu foi ajudar a arruinar os fazendeiros
E no meio do caos que se passava nas famílias de cacauicultores, ainda sobrou a percepção para observar a singularidade e os “causos”. Essa é a beleza da vida! Muito bom!
O tempo passa e esquecemos tb das coisas ruins . Que bom termos vc xela a lembrar destas estórias e histórias. Obrigado. Peço sua permissão para repassa-las . Abrs
Triste realidade !!!
Qualquer semelhança com o modelo midiático atual é mera coincidência!