Caros leitores,
E, nos sertões da Ressaca, fui folheando a vida como se estivesse lendo uma revista, uma revista Manchete; ou uma O Cruzeiro que tinham muitas gravuras, fotos, e pouquíssimo texto. O tempo passou, passou, passou tanto que temporou, temporais, bonanças, vivências, querências, cafés gostosos, plantei café, colhi café, li e reli com café, tomei café pensando e apreciando a magnífica vida! E, trinta e cinco anos passaram, quando resolvi fazer a viagem de volta do planalto da conquista para Ilhéus. Acontecia tudo e eu sabia; aconteceram votações e eu sabia o que o povo escolhia… ahhh o povo! Quer tanto, entretanto não escolhe bem.
A imensidão de cafeeiros não mais existe no planalto da conquista, a vassoura-de-bruxa levou… ué! E dá no café!? Não, mas dá no côco do mané! Vi acontecendo numa belíssima fazenda pertencente a um ex-governador, os fiscais do ministério do trabalho chegaram parecendo feras, como nada acharam, multaram pesadamente a fazenda por causa de um chuveiro elétrico queimado numa casa de colono fechada. Como entender uma situação desta é impossível, o proprietário mandou dizimar o cafezal e fez pastos. Dizem que foi por causa da lei, mas quem fez essa lei que persegue fazendeiros? Os manés.
A magnífica fazenda da EBDA1, a Manoel Machado, não mais existe; parei o carro para apreciar a destruição, o plantel de bovinos de sangue “karvadi” virou churrasco na churrascada promovida pelos bandoleiros invasores. Destruíram tudo e toda a pesquisa existente, até anotações de pesagens em cadernetas foram queimadas e dos troféus ganhados em exposições, retiraram o latão, cobre, bronze, prata e venderam no ferro-velho! As construções caíram… restou a capoeira. Tamanha destruição redundou na desgraça coletiva do município de Itambé não produzir sequer o leite que bebe. A vassoura-de-bruxa levou… ué! E dá em boi a ponto de comer sapé!? Não, mas dá no côco do mané! Um cramunhão, fumando, com um facão na mão aproximou-se; puxei conversa e elogiei a qualidade do plantio orgânico {tão extenso que uma cagada minha adubava tudo!} propus comprar uma cana caiana; pronto o famaliá rio um medonho sorriso de três dentes! Continuei a psicodélica viagem.
A usina do leite Glória de Itapetinga está fechada; a usina da Nestlé em Itabuna, que pegava leite também em Itapetinga fechou, ambas por falta de leite; o frigorífico funciona com bovinos trazidos de Goiás; os pastos da outrora capital da pecuária baiana estão degradados e nenhuma das tecnologias desenvolvidas na Estação Manoel Machado foi disseminada na região. Um amigo fazendeiro frequentador assíduo da “confraria etílico-filosófica quinta sem lei”2, teve suas fazendas de gado inviabilizadas por fiscais do ministério do trabalho que chegaram parecendo feras; por costume corrente entre vaqueiros, tinha um dormindo na rede no curral. Nada demais já que até nas festas de cavalgada, os cavaleiros (fazendeiros) fazem questão de dormir em redes no curral… os feras enquadraram o honrado fazendeiro em trabalho escravo e o prenderam! A vassoura-de-bruxa levou… ué! E dá botando uma corrente no fazendeiro José!? Não, mas dá no côco do mané! Dizem que foi a lei; a lei feita pelos manés. Lembrei um caso antológico; um triste caso de loucura e morte! Conheci o enorme viveiro de mudas de eucalipto da AFLORE3 e fiquei encantado, os improdutivos planaltos seriam transformados em florestas produtivas. A loucura do governo baiano acabou com o fomento, e assim a AFLORE extinguiu o viveiro, ficou impossível plantar eucalipto. Os fiscais da ADAB chegavam feito feras em qualquer loja que tivesse duas ou três mudas de eucalipto como mostruário; multavam odiosamente e ameaçavam o lojista de prisão! Tocavam o terror! Tanto fizeram que hoje só é possível comprar uma mudinha em Minas Gerais. O demônio usa dos rancorosos fiscais para agir, pode acreditar! Aconteceu, é fato, dos fiscais dum órgão do meio-ambiente chegarem numa fazenda de eucalipto botando pressão e terror, queriam a autorização para corte; ameaçaram o proprietário de prisão! Tendo o filho do fazendeiro recebido os feras, assustadíssimo, sem vivência aos 18 anos, num arroubo, correu e entrou na pick-up saindo para avisar. Os fiscais o perseguiram e enfim, numa curva na floresta, a pick-up bateu de frente num trator… era o seu pai que estava no trator. Pai e filho morreram. Loucura e ódio pelo fazendeiro, para quê isso? Dizem que foi a lei; a lei que persegue fazendeiros; a lei dos manés. A vassoura-de-bruxa levou… na floresta todos choraram, até a formiga lava-pé. E sim, dá sim no côco do mané!
De Firmino Alves em diante o maciço cacaueiro também mão existe mais, a vassoura-de-bruxa de fato levou e sim, dá em cacau! Levou também em sua descontrolada destruição, a fábrica da coca-cola em Ibicaraí, a Faculdade Montenegro, a unidade de moagem de cacau da Nestlé, a fábrica de adubo orgânico Mafa, Oduque Veículos, a COOFABA, a COOGRAP, a COOPERCACAU, supermercados Messias, Baby Beef Messias, Grupo Chaves, toda a indústria metalúrgica e metal-mecânica, a estação Joaquim Baiana, as EMARCs4 , as Trades exportadoras, a Bernardo Kaufmann (BERKAU), a RESICA, a Barreto de Araújo, a chocolates Chadler, a moageira COOPERCACAU, e mais uma reboleira de tudo que encontrou pela frente. Quanto a CEPLAC eu dedicarei um artigo exclusivo. Nem uma guerra é capaz de fazer tanta destruição, tão profunda que matou o espírito cacauicultor, a civilização do cacau, e a cultura para o cultivo do cacaueiro; jogou a Bahia na condição de extrativista, não são mais fazendeiros cultivando cacau, são extrativistas colhendo o cacau que acharem, se acharem, nos pés. Não pensem que o fenômeno vassoura-de-bruxa amainou sua fúria, ainda não! Sua onda de choque continua devastando, basta notar que apesar da melhorada no preço não tem nenhuma diretriz ou política de incentivo ao cultivo; sabe por quê? Porque, acredite com fé, vassoura-de-bruxa dá no côco de mané!!!
1-Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário.
2-Uma brincadeira entre amigos; nos reunimos para farrear e falar da vida dos outros.
3-Associação de Reposição Florestal do Sudoeste Baiano.
4- Escola Média Agropecuária da Região Cacaueira.
Coronel Xela.
Respostas de 4
Prezado Coronel Xela, bom domingo, parabéns pelo texto e por ser o último Coronel do Clã um dos coronéis do cacau; não foi a tôa que Deus lhe fez imortal !
Olá Xela . Vc continua retado . Triste ler e ver e lembrar que tudo isso relatado por vc é verdade . Malditos introdutores criminosamente da Vassoura de Bruxa em nossa região . Continue , gosto de como escreve . Sei que o Cacau ainda corre em suas veias , infelizmente nestes 35 anos , sem créditos novos nada mudou , continuamos no extrativismo nas roças de cacau . Esse ano o preços “ inimagináveis “ por quem quer que seja , agora sendo controlados pelas indrustrias moagueira . Pagam o que querem . Outra praga . Um forte abraço.
Encantada com sua construção textual. Inteligente, instigando e crítica .
Parabéns pelo belo texto e por ofertar informação, lazer, reflexão e prazer ao leitor.
Muito bom, pura verdade!