Caros leitores,
O final do ano chegou, que bom! Comemorei intensamente e muita alegria eu tive com minhas reflexões sobre o nascimento de Jesus; a vida se renova. Hoje em dia muitos comemoram o Papai-Noel; eu continuo e continuarei comemorando o menino Jesus. O cérebro não envelhece, a esperança persiste, os sonhos e os projetos meus para 2025 estão a pleno vapor, minhas energias positivas sufocam as coisas negativas. E com essas alegrias recordo de meu final de ano há 51 anos… rapaz, Antônio Marcos cantava com um vozeirão “1973/ tanto tempo faz que ele morreu/ o mundo se modificou… …o homem de Nazareth” era sucesso!
Foi em uma típica cidade no melhor da região cacaueira baiana, onde passei minha primeira infância; em Canavieiras. Brincávamos na praça da igreja com as avós sentadas nas portas tomando conta, exatamente às onze e meia, a primeira avó que soube que a hora era aquela, gritava o nome do neto; era a senha! Todos corriam para casa; era tomar banho e esperar o almoço. À tarde era fácil, brincávamos até a hora que a luz chegasse, e a última brincadeira era vê a velocidade da energia correndo nos fios, fazendo as luzes dos postes acenderem em sequência. Até as apostas de passar a tarde sem xingar, valiam até a hora da luz chegar; e assim assistimos, aprendendo tudo sobre eletricidade a uma mudança na chave do tempo; e que mudança! Vimos o caminhão “Munck” arrancar os postes de madeira e botar postes de concreto, logo, logo chegaria a energia hidráulica da usina do Funil. É engraçado recordar, pois cada criança tinha sua teoria para a imensa força do “Munck”, que pronunciávamos muque e fazíamos associação ao muque (músculo) do braço… quem ia saber que era uma marca! Eu de bicicleta sempre ia à frente, vistoriando os postes, vendo se estavam podres; e fazendo inferno! Em cada rua eu contava uma história acontecida no outro lado da cidade, o contexto da história dependia do ouvinte; se fosse entendido eu falava da rapidez em arrancar o poste e que o de concreto não acabava nunca. Agora, para as véias fuxiqueiras, aí só São Boaventura pra ter pena! Inventava de tudo ao gosto da freguesa: tinha um toco podre na rua, o pé do hidráulico pegou bem em cima, que afundou e o caminhão virou destruindo a casa; sorte que era de madeira eles vão pagar. Noutro caso tinham esquecido, num passado, um poste de pequi deitado no chão; quando arrancaram o que estava em pé o outro veio junto, a força foi tanta que toda a calçada da casa foi arrancada. A melhor de todas foi em frente à casa de Dr. Fulano de tal, quando arrancaram o poste veio um tampo da calçada, daí, apareceu o esconderijo onde ficava o cofre; e esse caso eu contei com a voz baixinha, em tom de segredo. As véias se deliciavam com a tarde alegre cheia de casos; eu também e tome casos e mais casos.
O trem pegou e as véias começaram a proibir o serviço, e… bem a coisa saiu do controle, também, nada de novidade afinal uma criança nascida para ser cronista tem de aprontar desde criança, os cronistas veem o mundo com outras lentes. Então certo dia eu deparei com o padre benzendo o caminhão, os funcionários, as ferramentas e até um monte de postes botados na porta da igreja; gostei da cena e fui participar, achei legal! O prefeito estava presente. Homem de Deus, desconfiei de algo quando o padre me pegou pela cabeça, e apontou em direção da casa de minha avó materna, dizendo “meninozinho abençoado por São Boaventura, sua avó quer conversar com você”.
Com tantas bênçãos não tinha como a energia não chegar, e aconteceu em uma madrugada, a cidade inteira acordou para ver as luzes acessas; era o fim de uma época! Não teve aula, todos os colégios saíram com suas bandas de música para a rua, eu carregava uma cartolina (zangado!) onde se lia “Abaixo o Fifó”, ora lá em casa nunca teve fifó! Tá errado! Foi à manhã inteira zanzando na cidade acompanhando os colegas, todos estavam alegres com a chegada da energia; quanto a mim, não compreendia direito pois tudo que dependia de energia já funcionava bem, cinema, sorveteria, posto de combustível, concessionária de automóveis, serviço de auto-falantes, até lavanderia elétrica! Um amigo de escola pequenamente filosofou dizendo que a energia hidráulica era mais forte e estável… ahhhh sim! Foi muita festa; muita mesmo. Os sinos da igreja não paravam, belém, belém, belém… é a vida! A vida é tão boa, tão magnífica, é a mais completa palavra do vocabulário, então, eis que estávamos brincando na praça, à tarde, quando o sacristão cansou de bater o sino; sem opção resolveu nos chamar para ocupar o lugar dele, tarefa simples e instrução rápida “vocês vão brincando de bater sino, sempre assim: belém, belém, Belém… tá bom!”
Quantas crianças neste mundo puderam brincar de bater sino na igreja! Quando chegou minha vez (éramos 5 ou 6) fui aplicado, senti o peso das cordas, puxei forte para dar um belém alto, puxei fraquinho e saiu um belémzinho, comecei a gostar da brincadeira. Passei a vez e lá vai uma hora passando e belém, belém, belém… uma hora e meia passando e belém, belém, belém… só São Boaventura é testemunha da força que botei para controlar minha paciência, não deu! A brincadeira ficou chata! Chegado minha vez não titubeei, vou inovar, claro! Mandei quatro toques bem curtinhos no sino pequeno tin, tin, tin, tin, e um no sino grande blauummmm. Miséria pouca é tiquinho, antes de eu repetir a terceira vez o Padre chegou esbaforido; exalei! Era o toque que anunciava a morte de pessoas fiéis… ahhh menino encapetado!
Vovó que era vidente, cartomante, líder espiritual, rezadeira, futuróloga, etc… etc… certamente interveio evitando minha excomunhão e a paz voltou a reinar na praça; voltou o jogo de futebol, o nêgo fugido, empinar arraia, passear de bicicleta. Daí, pelo mês de setembro, voltando da escola, encontro o Padre na porta da Igreja benzendo duas Kombis da TeleBahia. A telefonia via satélite estava chegando!!!
Coronelzinho Xela.
Respostas de 6
Parabéns pelas lembranças dos Tempos
Maravilhosos!!!
NOSTALGIA…BONS E SAUDOSOS TEMPOS
PARABENS PELO TEMA E PELA BONITA REDAÇÃO!
Foi o previlégio que tivemos, morar ao lado da igreja de São Boaventura. Hoje sinto não ter aproveitado mais essa sorte que tivemos, mas as lembranças são inesquecíveis!
Realmente interessante reavivar a memória …hoje os jovens estão a mercês dos paredões…e mente vazias. Parabéns Alex..por escrever e refrescar a memória de quem viveu esse tempo.
infância boa, curtindo muito e degustando guaiamum…
Mais uma crônica deliciosa! Eu adoro quando o vc escreve sobre esse menino que vive em você! Parabéns ao escritor e ao menino que guarda sua memória!