Caros leitores,
Naquele 1987 ainda era muito difícil perceber porque simplesmente e simplissimamente aquilo era inimaginável! Só isso!
Todo o contexto da cacauicultura começa a urgentemente precisar de mudanças, até as tecnologias existentes estavam a mostrar estafa e novos desafios a todo o momento surgiam; aliado a isso os fazendeiros tinham sofrido pesadas perdas no ano anterior, devido à “tablita” inventada por Dilson Funaro, o que levou a uma profunda desconfiança no modo de comercialização do cacau, acarretando um estrangulamento no autofinanciamento. Um ciclo de estiagens começado em 1986 persistia, o adubo químico jogado, pelo segundo ano não dissolveu e era visto facilmente ao inspecionar as roças. As replantas nas falhas morriam com facilidade por stress hídrico; o alto custo do combate à podridão parda aliada à falta de mão de obra treinada para a tarefa levou o cacauicultor a adotar uma solução meia-boca, o uso de pulverizadores manuais, que não conseguiam jogar a calda nos galhos altos. Tudo isso num ambiente de preços em queda e já batendo os US$ 1.750,00. As fazendas urgiam de novas tecnologias e adaptações ao calendário agrícola, mas…
Notem, avaliem, percebam o caminho da desonra e da vergonha num ambiente onde todos poderiam ser heróis, por mil motivos e cada um com o seu, ninguém quis! Procurei a CEPLAC em Santa Luzia, o agrônomo chefe foi o único honesto pois passou informações verdadeiras; falou do gel para plantio das mudas e sobre adubo encapsulado; no final disse desconhecer algum trabalho da CEPLAC neste sentido, e, como estava mais interessado era em ser prefeito, engatou logo uma longa conversa sobre política. As demandas por tudo na fazenda acumulavam-se, as tecnologias entregues para a cacauicultura rapidamente necessitavam de novos modelos; então procurei o DEPEX na CEPLAC em Camacan… nada! O agrônomo chefe estava preocupado em acomodar o último trem da alegria (empregados botados sem concurso, por indicação) promovido pouco antes da incorporação pela federação no governo Sarney. E aí mais uma curiosidade que poucos notaram e nada foi publicado ou discutido, na semana, ou no mês, em que a taxa de retenção foi abolida o preço não subiu 10%, como assim! Assim; alguém ganhou e não foi o cacauicultor. Por fim procurei o Conselho Nacional dos Produtores de Cacau (CNPC), depois de três horas de espera e de ser perguntado cinco vezes sobre o que eu queria e a mando de quem eu estava ali, fui recebido por um Orlantildes de Carvalho Filho carrancudo, mal humorado, e com o espírito apequenado; estava um animal acuado. Ele podia ter feito algo, feito muito; ele tinha obrigação de desconfiar; de saber; a função do CNPC era fiscalizar, aconselhar, propor diretrizes a CEPLAC. Nada fez, deixou o poder escorregar entre os dedos, foi manipulado e cedeu; não sequer denunciou que algo de estranho acontecia nos bastidores; não denunciou as nomeações tendenciosas para as diretorias; enterrou a representação política dos cacauicultores na CEPLAC. The End!
A ordem já tinha sido dada por quem não se sabe; sabe-se e conhecem-se as personalidades que muito influenciaram os acontecidos da época, Leonardo Boff, Frei Betto, Don Pedro Casaldáliga, Don Helder Câmara e outroszinhos, fato é que em março de 1984 começa o que ficaria conhecido como a “guerra do sarampo” em Canavieiras, nascendo ali o sindicalismo radical que desaguaria no MST. No contexto da CEPLAC quando José Haroldo saiu, seu sucessor (não consegui lembrar quem foi, quem souber deixa no comentário), entrou com missão dada e aceita de aparelhar todos os cargos chaves. Era impossível destruir a cacauicultura sem destruir a CEPLAC!! Impossível! Velhos… no sentido de velhos amigos cacauicultores, e aí é onde está a parte mais triste, mais canalha, mais medonha, mais inverossímil, mais vergonhosa, mais absurda, de toda a história do perverso crime da vassoura-de-bruxa. Entretanto, dada à ordem e aceso o sinal verde para a operação cruzeiro do sul {será coincidência um nome tão cristão, ou eram cristãs as mentes que bolaram a operação}, faltava aliciar as mulas para o trabalho sujo! Essa parte o mula Luiz Henrique Franco Timóteo, réu confesso, conta em primeira pessoa.
No fim da safra de 1987 os mulas (todos citados por Timóteo, incluindo seus cargos na CEPLAC) reuniram-se no bar O Caçuá e comemoraram, a operação foi um sucesso a vassoura-de-bruxa estava parindo na fazenda Boa Esperança em Buerarema. Brindaram a desgraça do cacauicultor sem saberem que o objetivo maior era destruir a civilização destruindo o maior e mais exitoso centro de pesquisa da cacauicultura do mundo; conseguiram! Mas eu vi e vivi a briga acontecendo no andar mais alto onde estavam os mandantes, nas batalhas entre Deus e satanás… satanás pagou aos seus, deu-lhes cargos, ouro, poder e la plata!
Logo após o dia da infâmia naquele maio de 1989, um jovem amigo me entregou o boletim técnico 152 do Centro de Pesquisas do Cacau pedindo que eu o estudasse atentamente; que ali tinha a mensagem. Eu estava no pátio interno do convento do Carmo, em Salvador, lendo e meditando, e li: “Embora a sua ação destrutiva possa ser limitada pela aplicação e manejo apropriado” mais adiante “ A existência de fontes de resistência ao c.perniciosa foi encontrada em cacaueiros forasteiros do alto amazonas coletados por POUND (1938, 1940).” Bem… ora a CEPLAC sabia que é possível conviver com o fungo, e também sabia que existiam plantas resistentes; antonce qual o motivo da devastação total incluindo a queimada da roça, em Uruçuca, no dia da infâmia!? Será que ali estavam as melhores plantas resistentes e por isso tudo foi dizimado? Que pôrra de centro de pesquisa é esse, que sabendo, joga fora uma oportunidade? Claro a mensagem foi clara e dada de forma escandalosa: a CEPLAC acabou e acabaria com a cacauicultura! Inimaginável, mas aconteceu.
Coronel Xela.
Respostas de 2
Olá amigo Xela . Você enxergou esse crime biológico de uma maneira muito diferente do imaginário dos outros e eu me incluo . A Ceplac , antes considerada o maior centro de pesquisa em Cacau do mundo , não estava preparada e não sabia conduzir esse processo Vasoura de bruxa na região cacaueira da Bahia . Tudo deu errado e fomos induzidos a tomar empréstimos para aplicar essa tecnologia errada , até hoje pagamos por isso e até hoje depois de mais de treis décadas não temos tecnologia para tal . Parabéns. Gosto de como trata o assunto Cacau . Abrs
Grande Xela!
Se não me engano o sucesso de José Aroldo de Castro Vieira foi Jorge Viana.