Caros leitores,
A virada rumo à modernização aconteceria, era inevitável, já se falava na TV Cabrália em Itabuna, na FM Rural em Camacan; a (novíssima) rádio Atalaia de Canavieiras tocava Flor da Manhã ainda com Missinho no Chiclete com Banana; na rádio Gabriela passava a propaganda da polpa de cacau Gabriela e o grupo Chaves inaugurava a “Bahia Rural” (ou era Bahia Química, não consegui lembrar) uma moderna loja de produtos agrícolas. Como o espírito da civilização do cacau ansiava arte, a loja era um expoente da arquitetura Brutalista1 , dava gosto entrar; um comércio num conceito novo onde deixava de lado o aspecto de depósito, botando o cliente (o fazendeiro) no centro, procurava dar todo conforto para as compras; Napoleão era o gerente. Blá…blá…blá… a teoria da libertação grassava chegando as minúcias em cada casa, fazendo surgir o primeiro quebra-molas “moderno”, desses grandão, que vi! Ficava em frente ao estádio Itabunão. Algo estava errado e no contexto deste caldo social uma peça fundamental desconectou-se; os rancorosos venceram a eleição para a associação dos engenheiros agrônomos da CEPLAC; a luz game over acendeu. A CEPLAC jogaria contra! Não queria mais ser a CEPLAC.
Não mais o Brutalismo com sua beleza discutível o cacauicultor apreciava, agora, neste meado dos anos 1990 a região enfrentava a brutalidade e todos fizeram sua crueldade com esmero. Não foi uma associação para o mal, foi um estado de espírito em que cada pessoa procura fazer sempre o mal, achando que pelo mal chegará ao bem (são os pobres de espírito). Os bandoleiros invadiram todas as fazendas que puderam; saqueadores devastavam as belas casas sede; inúmeras roças de cacau foram queimadas propositadamente; a justiça do trabalho, ideologicamente, promovia um alívio no bolso do fazendeiro; a indústria manipulava a bolsa para os preços derreterem (a África supriria a demanda), sem dinheiro o cacauicultor ficava paralisado; e a CEPLAC tudo o que fez foi ofertar o cacaueiro “teo Bahia”, logo revelado ruim. A raivinha dos ceplaqueanos com o fato de trabalharem no maior centro de pesquisa em cacau era patente; era o mal pelo mal; é a pobreza de espírito explícita. O plano era acabar com a CEPLAC e para isso precisava acabar com a cacauicultura, se a CEPLAC fizesse qualquer coisa de bom salvaria a cacauicultura, daí ela não conseguiria se destruir… que coisa! Esta raivinha, acredite quem quiser, seria combatida com inteligência; Ficará conhecida como o embate da miséria com a misericórdia.
Passado o terror inicial da cena da fazenda em Uruçuca toda derrubada e queimada, nenhuma outra teve fim parecido; a rejeição foi proporcional à brutalidade do fato. Entretanto era preciso continuar tocando o terror nos acuados, empobrecidos e sem capacidade de reação, cacauicultores. Ave Maria! Ou Afffff! Assunta bem direitinho, aturar a voz anasalada de Zózimo descrevendo o polígono de atuação na serra boa (faz. De Luciano Santana) discernindo e explicando o inexplicável, que isso e enguiço e feitiço; velho, é de dar azia em jegue russo. É presenciar a miséria humana e institucional; enquanto os cacauicultores atentamente procuravam pescar algum nexo, uma palavra que fosse útil, todos os palestrantes só diziam “cargas d’água” e principalmente, tocavam o terror. Certa vez no Clube de Campo Camacan, Mafuz chegou chegando, com seu jeitão nato de líder; fizemos uma rodinha de conversa, daí ele deu o veredicto: tudo isso é balela (girava a mão no ar como se estivesse peneirando), é conversa pra boi dormir; a coisa só se resolve com política. O interesse pelas nojentas palestras da CEPLAC foi diminuindo, diminuindo… intuitivamente o cacauicultor sabia que dali só sairia desgraça e miséria; mas a presença continuava grande, era platéia (olha que absurdo) para nenhum assunto!
Uma forte seca associada a um calorão dos infernos contribuiu para a formação de rodinhas de conversa próximas as janelas, os cacauicultores precisavam compartilhar seus saberes, saber como alguém poderia sair daquela situação; cada vez mais rodinhas e cada vez mais animada. Um falava das enxertias feitas numa fazenda em Gandu; o outro replicava alegando que era só para efeito de aumento da produtividade; outro questionava se era pedir demais a Deus que surgisse um cacaueiro resistente a vassoura-de-bruxa, daí podia enxertar; e outro, do nada, disse que em sua roça tinha um cacaueiro que não dava vassoura-de-bruxa! Como é!!!!! Foi uma correria desenfreada!!
Velho, foi bonito viver para vêr esta interessante passagem na história da cacauicultura, todos na miséria, sendo chutados que nem cachorro lazarento, com a CEPLAC fazendo todas as misérias possíveis e impossíveis (enrolou até o governador Paulo Souto), e com tudo isso sabe o que aconteceu? Enquanto a CEPLAC brincava de “validar” a planta resistente, uma corrida se deu nas fazendas buscando novas plantas. Foi quando vi toda a beleza da vida, para onde se andasse era possível vêr cacauicultores com dois ou três galhos para enxertia que tinha ganhado de fulano ou, que ia dar para sicrano. A partilha foi uma constante, ninguém quis ficar sozinho com uma espécie só e, o inexplicável aconteceu tudo foi dado, trocado. Da noite para o dia a região cacaueira voltava a respirar, a cacauicultura estava salva da vassoura-de-bruxa. O bem venceu o mal, a misericórdia nos cacauicultores os fez serem solidários. Já a CEPLAC ainda teria de mostrar todos os seus santos do pau oco, todos, inclusive em sua brutalidade, antes de morrer de vergonha; e com a indústria pisando em seu pescoço.
Coronel Xela.
1- A arquitetura Brutalista se caracteriza pelo concreto aparente e formas definidas. Foi muito usada, com contexto próprio, na União Soviética. É minimalista em essência.
Respostas de 3
Parabéns Coronel Xela; Senhor último Coronel do clã dos Coronéis, sempre disposto e corajoso a falar a verdade, independente dos mínimis dos mimizentos que tentam sempre esconder os muitos erros brutais da CEPLAC .
VALEU PREZADO XELA! O IPC ATRAVÉS SEUS DIRETORES ESTÃO SEMPRE ATENTOS. VOCÊ LEVANTOU UMA QUESTA IMPORTANTE. NOS VEREMOS EM IPIAU. VAMOS PAUTAR A DATA.
A riqueza dos detalhes , o passado narrado com muita profundidade nos faz reviver a nossa história